Documentários sobre artistas e filmes dão tom do 20º ‘É Tudo Verdade’

E a arte dá as cartas no 20º É Tudo Verdade. Filmes sobre música – O Que Houve, Srta. Simone, de Liz Garbus; Eu Sou Carlos Imperial, de Renato Terra e Ricardo Calil; Premê – Quase Lindo, de Alexandre Sorriso e Danilo Moraes. Uma artista militante, um cafajeste profissional que atravessou os universos da música e do cinema e uma banda mítica. Descobrem-se, assistindo a esses filmes, coisas sobre o movimento por direitos civis nos EUA e o Brasil dos últimos 50 anos. Mas existem, numerosos, os filmes sobre cinema.

A mítica Falconetti, intérprete do clássico La Passion de Jeanne D’Arc, de Carl Theodor Dreyer, foi sempre um enigma para o cinéfilo, que a vê viver uma rara experiência de transcendência na tela. Dreyer foi tão fundo esquadrinhando a pele, o rosto da atriz que lhe roubou a alma. Falconetti passou por tormentos que críticos e historiadores compararam aos da própria personagem que retratava, a donzela de Orléans. Não foi por acaso que ‘A Paixão’ foi rebatizado no Brasil como O Martírio de Joana D’Arc. Marcada pela personagem, Falconetti até tentou, mas no palco e na tela sua carreira nunca mais decolou. O filme, com farto material de arquivo, relata sua passagem pelo Brasil e pela Argentina, o que talvez seja novidade para muita gente. Quem já conhece a história, uma daquelas vidas que dão romances, fica mais atento e livre para usufruir as opções narrativas, a própria estética de Chamas de Nitrato, do norueguês Mirko Stopar.

Martírio de Joana D’Arc é de 1928. Encerra o cinema silencioso. Logo em seguida, começa o sonoro e, com ele, toda uma revolução técnica e estética. Outra revolução, a do expressionismo, está no centro De Caligari a Hitler, do alemão Rudiger Suchsland. Em 1919, Robert Wiene fez O Gabinete do Dr. Caligari – nas imagens deformadas, nos contrastes de luz e sombra, os críticos viram a antecipação do nazismo. Sigfried Kracauer escreveu um livro famoso que serve de eixo para Suchsland. Ele analisa o cinema da Era Weimar e traz seu olhar até a Alemanha contemporânea, com os depoimentos de Fatih Akin e Volker Schlondorff.

Ambos esses filmes e também Seguindo Nazarín – O Eco de Uma Terra em Outra Terra, de Javier Espada, celebram um tipo de cinema de arquivo, com depoimentos que estimulam a reflexão. Munido da mesma câmera que Luis Buñuel usou para fazer as fotos que serviram à pré-produção do seu clássico mexicano dos anos 1950, Espada faz um tributo e uma homenagem, e questiona o que sobrou daquele México, e daquele cinema.

Walter Carvalho faz um pouco isso em Um Filme de Cinema. Uma sala em ruínas na Paraíba, o depoimento de Ariano Suassuna. Walter é irmão de Vladimir Carvalho, homenageado deste ano por seus 80 anos. É todo um cinema que dialoga e se nutre de si mesmo e da realidade. Aos 20 anos, o É Tudo Verdade reinventa-se.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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