O documentário Fim do Século: A História dos Ramones faz parte da programação do Festival do Rio. O problema é se irá entrar em cartaz nos cinemas nacionais ou se os fãs devem procurar um download na internet. O filme acompanha a trajetória do grupo – e os conflitos internos que a guiaram – num formato que remete à sua música. Ou seja, simples e direto, mas sem ser “minimalista” ou qualquer frescura do tipo “one, two, three, four!”
O documentário chega ao Rio num momento em que a história do grupo atrai curiosidade, pouco depois da morte de Johnny Ramone – da formação original, com Johnny, Joey, Dee Dee e Tommy, apenas o último continua vivo. O filme reúne depoimentos dos quatro, além de Mark, CJ e Richie Ramone, que também foram integrantes da banda ao longo de sua história. Colegas de geração, familiares e pessoas próximas também são ouvidas, ajudando a traçar uma radiografia do grupo, num tom que fica entre a amargura pela falta de reconhecimento – o punk entrou na conta dos ingleses – e o humor corrosivo de uma banda que era capaz de brigar no palco porque cada um queria tocar uma música.
Na edição das entrevistas, os diretores Michael Gramaglia e Jim Fields desenham a personalidade de cada um dos integrantes. Conservador, politicamente à direita “desde os dez anos” segundo sua própria declaração no filme, Johnny era controlador e nunca dava o braço a torcer – o que fica claro até mesmo na sua maneira seca e direta de falar. Tímido, Joey era o mais apaixonado e na sua introspecção trazia resquícios do garoto considerado “esquisito” na infância e adolescência. Tommy era o mais centrado. Dee Dee era um louco completo, totalmente inconseqüente.
Os fãs brasileiros têm um aperitivo a mais, com duas referências diretas ao país, numa piada de Dee Dee e no momento em que eles lembram a passagem pela América Latina nos anos 90. Esta é especialmente – e involuntariamente – engraçada, quando é analisada a relação entre os problemas sociais do Brasil e sua paixão pelos Ramones.
