Terça-feira no Recife – Francisco Brennand, o próprio, assiste ao documentário que leva seu nome e que estreia sexta-feira, na capital pernambucana. O filme assinado pela sobrinha-neta do artista, Mariana Brennand Fortes, estreou na sexta passada, dia 15, em São Paulo e Rio. Brennand já havia visto o filme num corte inicial. Teve agora outra percepção na tela imensa do Cine São Luiz, um dos mais tradicionais do Recife, e que foi o cinema da sua juventude. Havia muita gente – em torno de 500 pessoas. “Foi emocionante”, conta Mariana.

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Embora seja da família, ela não se refere a Brennand como ‘tio’. Fala dele como Brennand, o artista. “Brennand é cinéfilo. Pode gostar do isolamento, mas vê muito filme, entende de narração, de corte, de som. Chegou a escrever sobre Michelangelo Antonioni e outros grandes cineastas. Comparando as duas versões, a que tinha visto anteriormente e a final, disse que via muitas diferença e gostou do que viu.” “Francisco Brennand”, o documentário, foi um dos vencedores do Prêmio Itamaraty, na Mostra do ano passado. Ganhou o dinheiro que permitiu a Mariana fazer um lançamento digno, como acha que seu filme merece.

“Francisco Brennand” começou a nascer em 2002, quando ela voltou para o Brasil, depois de se formar em cinema na Califórnia. Voltou já com um projeto em mente – o documentário sobre o tio-avô, irmão de seu avô. Quando criança e, depois, jovem, ela visitava a Oficina Brennand, com seu imponente Grande Páteo ao Templo do Ovo Primordial, construída entre 1979 e 89 na entrada da fábrica de cerâmica que Francisco herdou do pai. Ela sabia de sua importância, mas descobriu que sua obra e ele eram muito maiores. Ao projeto do filme somou-se outro, o de catalogar a obra de Brennand. O livro foi lançado em 2012, com textos de Alexei Bueno e Ferreira Gullar.

Existe agora um outro projeto que ainda precisa ser concretizado – outro livro. Embora seja um falastrão, ele próprio o diz, o artista preza muito seu isolamento. Mariana sabia que iria entrevistá-lo, mas as entrevistas viraram pontuais, sobre temas específicos, nos 75 minutos que compõem o filme. Resultaram na extrema depuração das 29 horas de conversa que Mariana teve com o tio. O motor, a espinha dorsal do documentário terminou sendo o diário, que Brennand lhe franqueou e que ela pretende editar. A própria Mariana lê o diário de Brennand, que reflete sobre sua vida e obra. Todo mundo valoriza o ceramista, o escultor, com seus motivos mitológicos. Brennand resgata o pintor, que é um artista romântico atraído pelos temas do homem e da mulher.

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O grande mérito de “Francisco Brennand”, o filme, é oferecer o retrato intimista de um artista sobre o qual não se sabe tanto. Brennand externa o que não deixa de ser um pesadelo. Ele construiu sua cidadela num terreno mítico, onde se organizaram os combatentes que expulsaram os holandeses do Brasil. Na fantasia de Brennand – o seu pesadelo -, sua obra será esquecida e a fábrica, a oficina, serão invadidas. É um filme revelador – do artista, do homem. Muito bonito – a fotografia de Walter Carvalho agrega informação, como o diário lido por Mariana. “Brennand é um intelectual, muito ligado à literatura e à palavra”, ela define. O filme passa isso e também revela, aos olhos e aos sentimentos, um espaço sagrado – o museu a céu aberto que Brennand construiu para abrigar e desenvolver sua obra. O filme tem um tempo. Brennand, de longas barbas brancas, precisa de tempo para fazer suas cerâmicas. Mas o filme também tem esse espaço tão particular. Mariana conseguiu. Num outro formato, ela fez um documentário tão bom quanto o que César Oiticica dedicou a seu tio, Hélio. O filme de Mariana já viaja pelo Brasil, ela espera que viaje também para fora. Brennand, afinal, é conhecido em todo o mundo. Ampliar sua voz e o alcance de sua arte não é o menor dos atrativos do filme que você não pode deixar de ver para entender um pouco mais o próprio País. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

FRANCISCO BRENNAND

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Direção: Mariana Brennand Fortes. Gênero: Documentário (Brasil/ 2012, 75 min.). Classificação: Livre.