Para os jovens que só ouvem música na internet, pode soar surreal, mas houve uma época, 50, 60 anos atrás, em que os cantores só “aconteciam” se passassem pelos microfones de uma certa emissora de rádio. Uma rádio que transmitia, do centro do Rio, o melhor da música, e também do jornalismo, do humor e do esporte para o Brasil e para o mundo todo, a ponto de ter fãs na Islândia e Austrália.
Setenta e cinco anos depois de sua fundação, a Rádio Nacional continua no ar (1130 AM), mas é lembrada por seu passado. É tema de “Rádio Nacional”, documentário de Paulo Roscio, cuja pré-estreia será hoje, no velho Cine Odeon, no Rio. Durante seis anos, cantores (Marlene, Cauby Peixoto, Roberto Carlos), jornalistas, humoristas – alguns, sobreviventes da época – e pesquisadores lhe deram depoimentos sobre a importância da emissora, maior veículo de comunicação de massa dos anos 40 e 50, pré-TV Globo.
Eles lembram sua criação, a estatização e uso político pelo primeiro governo de Getúlio Vargas, a audiência inabalável, o auge dos programas musicais diante de auditórios em êxtase, os concursos de rainhas, as radionovelas, o Repórter Esso (em que seria lida em primeira mão a carta-testamento de Getúlio, em 54), chegando a seu processo de decadência, com a popularização da TV e a ação aniquiladora da ditadura militar, que condenou a rádio a viver da glória pregressa.
Os melhores momentos do filme são os que louvam seu palco lendário. Roberto Carlos, que homenageou a rádio na música “Minha Tia”, de 1976, volta no tempo: “Eu andava pelos corredores buscando ser escalado por um programa como o do Cesar de Alencar, o do Paulo Gracindo… Quando consegui, foi muito importante para a minha carreira”.
“Sou ouvinte de rádio e me encantei com a história da Nacional vendo as fotos da época espalhadas nos seus corredores”, conta o diretor, que filmou nos estúdios da rádio, no primeiro arranha-céu da cidade, erguido ainda nos anos 30. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.