As redes sociais são hoje parte fundamental da vida de muitas milhões de pessoas no mundo: seja para espaços de divulgação e discussão de ideias, seja para postar uma selfie com filtro de coelhinho ou a imagem do seu almoço de quinta-feira, o Instagram especificamente criou uma espécie de realidade paralela, e os efeitos que essa criação têm sobre a sociedade ainda são desmedidos. É nessa exploração que se baseia o documentário Figura Pública (Public Figure), do diretor americano Brian Corso, que passa nesta sexta-feira, 31, no SundanceTV, às 14h30.
O filme é produzido pela sul-africana Bonang Matheba, uma das “influencers” mais conhecidas do país, que também aparece em algumas cenas detalhando seu estilo de vida. Outras figuras conhecidas dão suas opiniões sobre as redes sociais, como Denzel Washington, Rose McGowan e Sebastian Tribbie (@YouVeGotNoMale na web). O filme também inclui depoimentos de psicólogos e pesquisadores dos efeitos das redes no cotidiano das pessoas.
Mas o fio condutor do filme é Tribbie, um hipster convencido de Nova York no qual a distância entre expectativa e realidade fica muito evidente. “Sou muito famoso, não posso nem andar por Nova York”, diz a certa do altura do filme. A câmera então o segue pelo passeio do Washington Square Park, no coração de Manhattan, e ninguém o reconhece.
Tribbie começou sua carreira como comediante nos clubes de Nova York mas logo se mudou para a internet, e hoje se autodenomina produtor profissional de memes. Foi a partir dele que o jovem diretor Brian Corso, em seu primeiro filme, desenvolveu a ideia.
“O que aprendi com esse filme foi que você não precisa ser a pessoa mais seguida do mundo para ganhar a vida com as redes sociais, nem para receber uma quantidade enorme de ‘hate’ (ódio)”, diz o diretor à reportagem.
O documentário estima que cerca de 210 milhões de pessoas são viciadas em redes sociais. Uma entrevistada na Times Square conta que teve que apagar o aplicativo do Instagram do seu celular porque sua mão ia direto para ele quando ela desbloqueava a tela. Denzel sugere: “se você acha que não está viciado, tente ficar uma semana sem”. Um dos psicólogos no filme afirma que usuários compulsivos das redes sociais vêm apresentando sintomas parecidos aos de usuários de cocaína.
Desde o início, Corso sabia que Public Figure não seria sobre grandes celebridades de TV ou da música, porque o objetivo era mapear como as pessoas “normais” estavam tomando conta do ambiente digital das redes sociais. “Estando nas redes sociais, você está a um passo de se tornar uma pessoa superfamosa, basta um vídeo viral, então é nesse tipo de velocidade que a informação está se movendo hoje em dia”, comenta.
A intenção era realmente explorar o Instagram, porque ele aparenta ter mais durabilidade do que muitos dos seus concorrentes: do Twitter ao Snapchat, mas também ao Facebook (a empresa-mãe do Instagram). “Acho que o Instagram vai realmente durar: é muito difícil as pessoas migrarem dali”, opina o diretor, que agora produz um novo documentário sobre racismo na Broadway. “Mesmo agora com o Tik Tok, as pessoas ainda compartilham seus vídeos, feitos no Tik Tok, dentro do Instagram.”
O filme não oferece respostas fechadas a perguntas ainda em ebulição, mas faz um retrato curioso do que as redes sociais significaram no fim dos anos 2010.