Uma das principais DJs do País, Eli Iwasa se mantém em evidência numa das cenas musicais que mais se renova há duas décadas. E faz isso se mantendo fiel ao estilo que criou ainda no fim dos anos 1990. Na contramão dos grandes DJs do momento, que investem cada vez mais pesado em apresentações com grande apelo visual, Eli é uma DJ mais raiz. “Não faço grandes produções, acho que eu ainda consigo equilibrar um pouco o que era ser DJ nos anos 1990”, avalia.
Jurada em um concurso de produtores musicais do Amsterdam Dance Event, considerada a maior conferência sobre música eletrônica do mundo, Eli também exalta o momento do Brasil nesse meio. “Tem um trânsito de artistas brasileiros indo para o exterior como nunca teve antes. Acho que isso é um dos grandes sinais de amadurecimento.”
A DJ concilia a carreira nas pistas com a de empresária – junto com sócios, ela comanda dois clubes em Campinas. A média de cinco dias por semana que passa cuidado da rotina das casas de shows com os dois atuando como DJ, além da constante necessidade de se atualizar sobre o que é tendência nas pistas, faz com que ela se defina como uma workaholic. E a longevidade na carreira musical passa justamente por aí.
“Eu não diria que eu tive sorte. Eu atuei em muitas frentes nesse segmento de música eletrônica. Sempre atuei em muitas outras coisas além de ser DJ. Isso permitiu que eu me mantivesse no mercado por tanto tempo”, conta Eli.
Estar atenta ao que acontece no mundo da música é uma exigência básica, que muitos no seu ramo acabam esquecendo. “Vi muitos colegas abandonando suas carreiras ao longo dos anos”, relembra. “Conseguir me manter atualizada é uma das coisas mais importantes. Muitas vezes tem o que se consagra como DJ e depois se acomoda, se coloca numa posição em que não vai se reciclar. Eu sou obrigada a fazer isso. O público se renova muito rápido, cada vez mais rápido, às vezes em meses. Eu olho para as pistas e em quatro, cinco, seis meses ela mudou toda. Isso me alimenta como DJ.”
Mudanças
Eli Iwasa completou 20 anos de carreira no ano passado. Como não poderia deixar de ser, muita coisa mudou da época em que ela estreou no comando das pistas até os dias de hoje. Mas a essência do que faz praticamente se manteve inalterada.
“Quando eu comecei, a música eletrônica era muito sem um rosto. As pessoas queriam que a música falasse por elas. Muita gente nem tinha foto, ou se apresentava ou aparecia nas fotos de capuz, de máscara. A música vinha em primeiro lugar, e a imagem era uma coisa secundária. Hoje a coisa inverteu e a imagem é muito importante. Eu tenho um cuidado com imagem, mas é uma coisa muito pessoal minha”, conta.
Estudiosa da cena techno no País, ela vê o Brasil em patamar semelhante ao dos grandes centros, como o europeu e o norte-americano. Com um detalhe: o Brasil tem uma identidade bem visível.
“Quando passamos por um momento como estamos passando agora, político, complicado, as pessoas se agarram muito à música. É uma forma de se expressar, de estar junto com pessoas que têm o mesmo pensamento que você. Tem uma série de iniciativas pelo País com um caráter mais político. A cena brasileira é muito conhecida por isso”, pontua. “E é uma cena inclusiva, diversa. Você vai pra São Paulo e tem mulheres maravilhosas, transformers, trans, gays. Essa mistura toda dá essa personalidade à música eletrônica do Brasil no momento e é essa cena que ganhou reconhecimento lá fora.”
Rock in Rio
No ano passado, Eli Iwasa participou pela primeira vez do Rock in Rio. Ela foi uma das atrações do primeiro final de semana no palco New Dance Order, experiência que define como uma das mais especiais da carreira. “Eu não esperava ser convidada. O Rock in Rio é aquele festival que faz parte do imaginário de todo o Brasil. Eu cresci vendo pela TV, era uma coisa muito inatingível”, recorda. “Do convite até o festival eu vivi uma montanha-russa emocional.”
Eli diz que a felicidade em se apresentar num dos maiores festivais de rock do mundo foi compartilhada por toda a família. “Eu levei o meu pai. Ele está ficando velhinho, nunca vai me ver tocar. Ele conhece muita pouca coisa (sobre festivais de música eletrônica), por mais importantes que eles sejam. Quando eu disse que ia tocar no Rock in Rio, ele vibrou muito.”
No dia marcado para a apresentação, uma chuva forte caiu sobre a Cidade do Rock, instalada no Parque Olímpico da Barra. Nada, porém, que atrapalhasse a estreia da DJ no festival.
“Fui muito abençoada. Quando eu fui entrar não tinha chuva, não tinha nada. Os outros palcos pararam e a pista estava lotada. Eu saí do palco e caiu um pé-d’água. Dei muita sorte”, diverte-se. “É um dos momentos que vou guardar pra sempre.”