Diversão garantida

Durante muitos anos, a imprensa tratou os seriados de tevê americanos como ?enlatados?, produtos industriais que chegavam prontos ao mercado nacional, sem quaisquer relações com a realidade brasileira. Eram alienantes, crítica que deve ser compreendida no contexto da censura e da ditadura militar no País. Mais de 20 anos depois, os seriados continuam a atrair telespectadores e provam que podem ter ótimas histórias, com atuações brilhantes de novas gerações de artistas.

O sucesso atual dos seriados pode ser atestado pelo sucesso que fazem nos canais a cabo e pela multiplicação de caixas com DVDs em locadoras de filmes, também à venda em lojas de departamento Brasil afora. Se, no Brasil, a teledramaturgia caminhou para a novela e, mais recentemente, para a minissérie e para o sitcom, nos Estados Unidos o seriado tornou-se o mais típico produto dramático, com histórias com elenco definido, cenários quase sempre fixos e tramas que se solucionavam ao final de cada episódio. O modelo geral pouco mudou desde o seriado Superman, que estreou nos Estados Unidos em 1951, mas o tema das histórias ampliou-se em constelações de gêneros e de personagens.

O policial, uma das classes mais populares de seriados, fragmentou-se em toda a sorte de programas. Entre os mais vitoriosos, estão os seriados ?forenses?, ou investigações criminais científicas, aonde a grande estrela não é mais o detetive ou o criminoso, mas o cadáver, examinado à luz dos mais recentes avanços tecnológicos. À frente dessa tendência, está CSI Crime Scene Investigation, com protagonistas que apenas secundam as pistas mais irrisórias. E ainda há Bones, do canal FX, Crossing Jordan, da Universal, e outros.

Esse positivismo que torna a ciência em caminho seguro para a verdade também está presente em Dr. House, um médico finamente interpretado por Hugh Laurie capaz de curar a mais rara das doenças graças a um arsenal de exames tão grande quanto seu desprezo pelo ser humano. Mais do que o enredo ou o desenvolvimento previsível de cada episódio, é a personalidade doentia do personagem que torna o seriado tão interessante. Caso idêntico ao de Monk, um detetive que resolve tramas, no máximo, ingênuas. Mas o ator Tony Shalhoub, que protagoniza a série, constrói um tipo que reúne todos os transtornos obsessivos de comportamento num único e genial personagem. Chega a lembrar o igualmente desajustado Columbo, grande sucesso dos seriados dos anos 70s, estrelado por Peter Falk.

Enquanto alguns seriados se sustentam pelo talento de seus atores, outros contam com aquilo que a televisão americana tem de melhor: uma escola de roteiristas profissional, inteligente e capaz de desenvolver ótimas situações que vão muito além das comédias de costumes. Seinfeld, lançada em 1989, e Friends, de 1994, são dois exemplos de seriados com grandes roteiros, capazes de superar situações óbvias e amarrar tramas complexas com gênio. Boas histórias marcam tanto os cômicos Um maluco no pedaço, de 1990, e Eu, a patroa e as crianças, de 2002, quanto o policial Arquivo morto, de 2003, no qual agentes de uma delegacia de homicídios resolvem crimes esquecidos há décadas. A cada episódio, uma nova história completa, com seus personagens, motivações e desfechos, é apresentada por semana. No grande universo da tevê norte-americana, há um pouco de tudo. E muito talento também.

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