Vanessa Gerbelli tem um inesperado traço em comum com a vilã Elza, que faz em Prova de Amor: a obcessão. Mas enquanto o sintoma na personagem atinge as raias da esquizofrenia, na atriz, segundo ela, a ?loucura? se expressa de uma forma bem mais branda. Limita-se a fazer com que ela analise detalhada e repetidamente cada característica ou gesto que imprime à sua personagem. Pior: a dedicação de Vanesa nem sempre se reverte em satisfação com o resultado final. ?Mas novela é isso mesmo: a gente vai construindo aos poucos…?, conforma-se. Apesar do rigor com que se avalia no vídeo, Vanessa percebe que o público tem uma visão mais generosa em relação ao seu trabalho como atriz. ?Nas ruas, por exemplo, as crianças têm medo de mim. É um bom sinal?, brinca.
Vanessa se cercou de todos os cuidados para fazer da ensandecida Elza uma personagem convincente. O principal deles foi encontrar o ?tom? correto de interpretação, aliando as vilanias e os problemas psíquicos enfrentados pela vilã. Para a tarefa, a atriz lembra que ?mergulhou? fundo no ?universo? da loucura, através de filmes que retratassem desequilíbrios mentais. Ela cita dois em especial, como Garota Interrompida, com Winona Ryder, e Uma Mente Brilhante, com Russell Crowel. Outra fonte de inspiração foram as conversas com a sogra, que é psicoterapeuta e também recomendou a leitura de alguns livros. ?Ela chegou até a dizer que estou realmente parecendo uma paciente?, destaca.
Empolgada, a atriz conta que a personagem, por todos os problemas originados pela loucura, é um ?prato cheio? para qualquer ator. Vanessa garante que é possível realçar diversas facetas de Elza, sempre de acordo com as cenas em que a vilã é a protagonista. ?O mais legal é que ela é passível de várias mutações. Um dia pode estar mais agitada e no outro mais calma. Além disso, é uma doença que pode regredir ou evoluir, vai depender do autor?, observa. A atriz, contudo, ressalta que ?encarnar? uma personagem com uma doença psíquica não é tão fácil. Segundo ela, é preciso dosar bem todos os ?ingredientes? inerentes à Elza para não cair numa interpretação que resvale para a caricatura. ?Não posso ficar exagerada. Se ficar falso, as pessoas não vão acreditar?, pondera.
Outra preocupação de Vanessa é fazer a personagem se adequar ao horário em que a novela é exibida. A atriz assegura que, ao contrário de uma produção das oito, onde o ator pode dar uma interpretação mais densa, numa trama das sete é preciso ?pegar mais leve?. Não por acaso, Vanessa procura fazer com que essa loucura também seja engraçada e palatável para as crianças e adolescentes, por exemplo. A atriz, no entanto, pondera que algumas vezes acaba dando mais dramaticidade à Elza. ?Às vezes, eu acho que ainda tem muita tristeza. Mas é inevitável, porque é assim que eu vejo a loucura?, opina.
Vanessa garante que não se arrepende de ter trocado de emissora, ainda mais agora que Prova de Amor vem conquistando bons resultados de audiência, a média nacional é de 14 pontos. A atriz ficou sem contrato com a Globo desde que fez uma pequena participação em Cabocla. Mesmo após ter tido uma ótima estréia na emissora, como a vilã Lindinha, de O Cravo e a Rosa, de 2000. Na Record, o convite partiu do próprio autor Tiago Santiago, que queria exatamente a atriz no papel de vilã. Sem dar uma resposta definitiva, Vanessa foi ver o que estava sendo feito na Record. Assistiu a alguns capítulos de Essas Mulheres e não teve mais dúvidas. ?Achei a novela linda, com um texto incrível. E me animei, já certa de que seria um bom trabalho. Melhor ainda por se tratar de uma boa personagem?, enaltece.
Pintura íntima
Vanessa Gerbelli sempre esteve ligada ao teatro. Tanto que a estréia da atriz nos palcos foi aos sete anos de idade numa apresentação no colégio, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Desde então, Vanessa fez diversos cursos de interpretação para se aprimorar. Na época de prestar vestibular, o pai insistia com a idéia que a carreira de atriz era ?roubada?. Vanessa, então, ficou em dúvida entre uma supostamente segura Publicidade e uma romântica Belas Artes. Ela passou para as duas faculdades, mas como sempre gostou de desenhar, começou a se dedicar às aulas de Belas Artes na Universidade de São Paulo, USP. ?Mas paralelamente, continuei estudando teatro?, lembra.
Formada em Belas Artes, em 1995, Vanessa é fã confessa da pintura abstrata e das formas da figura humana. Ela conta que não gosta de pintar paisagens e garante que os amigos costumam dizer que seus quatro seguem a linha expressionista. ?Não gosto dessa coisa de rótulos. Mas é claro que tenho minhas referências, como Van Gogh e Egon Schiele, por exemplo?, ressalva. Os amigos, aliás, são os grandes felizardos, já que ela os presenteia com seus quadros. Mas, viver da venda de suas obras ainda não é possível, até hoje só vendeu um quadro. Sem tempo para se dedicar à pintura, a atriz espera terminar de gravar a novela Prova de Amor para voltar a pintar. ?É um estado de introspecção, de concentração. Quando faço novelas, é impossível me desligar?, confessa.