A última eleição da Academia Brasileira de Letras em 2003, que será realizada hoje para a cadeira 39, que foi do jornalista Roberto Marinho, reúne treze candidatos, um recorde de muitos anos, mas dois deles dispararam na frente: o senador Marco Maciel (PFL-PE), que nunca perdeu uma eleição desde seus tempos de estudante de Direito no Recife, e o escritor e jornalista Fernando Morais, que traz no currículo best-sellers, como Olga e Chatô, o Rei do Brasil. Este começou com poucos votos mas, segundo avaliações dos próprios acadêmicos, pode surpreender.

Hoje, enquanto Maciel matreiramente se recolhia, um assessor seu, que não se identificou, explicava: “Como bom político, ele só fala de eleição após a urna ser aberta e os votos contados”. De qualquer forma, o senador, que tem quatro livros publicados entre 1987 e 1992 (Vocação e Compromisso, Idéias Liberais e Realidade, Liberalismo e Justiça Social e Educação e Liberalismo), está tão confiante que vai esperar o resultado no Hotel Glória, um dos mais tradicionais da cidades (que costumava receber presidentes como Itamar Franco e José Sarney), com um coquetel já preparado, na companhia da mulher, Anna Maria.

Morais escolheu outro hotel tradicional, o Copacabana Palace, para esperar o resultado com amigos que vivem no Rio: o escritor Ziraldo, o jornalista Zuenir Ventura, o arquiteto Oscar Niemeyer, e o assessor especial da Presidência da República, Frei Betto, que foi seu cabo eleitoral. Ontem, quando comemorava um voto de última hora, o escritor fazia as últimas contas e achava que não faria feio. “Comecei com quatro eleitores e fui ganhando outros até chegar a…”, interrompeu para criar suspense. “Na verdade, só os votos fechados nos quatro escrutínios não mudam. Então, é difícil saber quantos votos exatamente se tem”.

Opostos

Se Maciel veio da política para as letras (foi ministro de Estado e governador de Pernambuco nos governos militares e vice-presidente nos dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso), Morais fez o trajeto contrário, pois começou jornalista, passou à literatura e chegou à política, tendo se candidatado a governador do Estado de São Paulo pelo PMDB. “Mas esta eleição dá muito mais trabalho”, comentou ele ontem, contando a maratona da última semana. “Ontem [terça] estive em Belo Horizonte com o governador Aécio Neves, voltei para o Rio para o aniversário do Oscar Niemeyer e ainda fui a um jantar em homenagem ao Cícero Sandroni”.

Azarões

Os outros candidatos, com poucas chances de receber voto, representam setores diferentes. A deputada estadual Heloneida Studart (PT) coloca-se junto à esquerda brasileira (assim como Maciel fica à direita e Morais, no centro, mas não necessariamente entre os dois) e teve ameaças de votos, mas a polarização a deixou na pista.

Os demais, nem isso, e há candidatos de carteirinha, como a escritora Laurita Mourão, o romancista Waldemar Cláudio dos Santos, o poeta londrinense Paulo Hirano, o babalorixá João Batista do Espírito Santo, além de Gilmar Cardoso, Nelson Valente, Andrea Borba, Fernal Avelino, Elma Queiroz Bello e Blasco Peres Rego.

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