Disfarce eficiente

Sete pecados é muito parecida com todas as novelas anteriores de Walcyr Carrasco. É certo que, até agora, o autor só tinha escrito histórias de época e a atual trama das sete é sua primeira obra contemporânea. Mas se não fossem as imagens da São Paulo de hoje, cidade onde os acontecimentos são ambientados, seria fácil pensar que o folhetim se passa em algum período do passado. Bastaria mudar figurino e cenário. Pois as situações de cena e os personagens já estariam prontos.

Ágatha, de Cláudia Raia, e o Barão, de Ailton Graça, integram uma sociedade secreta e estão sempre envolvidos com rituais misteriosos. Pela temática, poderiam, perfeitamente, integrar o elenco da enfeitiçada Eterna magia, de Elizabeth Jhin. Outra Elizabeth, a Savalla, que interpreta a neurótica Rebeca, mantém os trejeitos de Jezebel, figura que representou em Chocolate com pimenta, trama de Walcyr Carrasco exibida em 2004. A atriz está engraçada mas, por outro lado, exagerada. Suas caras e bocas e seus gestuais caricatos seriam mais bem aceitos em uma novela da década de 20 ou de 50, não em pleno século XXI. O único artifício que a mantém com um pé na atualidade é o texto, já que sua personagem basicamente só conversa sobre tratamentos de beleza e cirurgias plásticas.

Comédia, aliás, é o que não falta em Sete pecados. Essa que é uma marca registrada de Walcyr realmente garante os melhores momentos da novela das sete. Nos principais núcleos do folhetim há pelo menos um personagem engraçadinho. A Agripina, de Suely Franco, tem a ranzinzice exacerbada que a deixa cômica. A família que dirige a pizzaria e que conta, entre outros, com Rosanne Gofman como Néia e Wagner Santisteban como Ulisses, também garante boas risadas. Remetem às famílias atrapalhadas que o autor já criou para O cravo e a rosa e Alma gêmea.

Ainda no quesito diversão, há uma dupla que merece destaque especial: Régis e Elvira, de Malvino Salvador e Nívea Stelmann. Os dois atraem todos os holofotes nos capítulos atuais e dão conta do recado com um casal que vive discutindo por todos os cantos. O jeito bronco e o sotaque do ator também lembram caipirões típicos de outros trabalhos de Walcyr Carrasco, como o Petruchio, de Eduardo Moscovis em O cravo e a rosa. Mas ainda assim, Malvino consegue ser natural em cena. Quanto à moça, o figurino está ?over?, mas isso não compromete o bom trabalho da atriz.

Como Walcyr Carrasco desenvolve boas cenas e diálogos, no caso dele os excessos de semelhança com trabalhos anteriores não são prejudiciais. Sete pecados não apresenta novidades mas cativa, faz rir, é agradável de ver. Não é à toa que mantém uma média de 30 pontos de audiência e 47% de participação. São números satisfatórios para o horário. O autor não inova. Segue sua receita básica. Mas como usa sempre bons ingredientes, dá certo. 

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