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Diretoras latino-americanas dão seu testemunho sobre o mundo atual

É uma velha discussão. Há um olhar feminino no cinema? Se existe, e claro que sim, independe de gênero. Uma diretora como Kathryn Bigelow, em Hollywood, faz cinema para mostrar que consegue ser mais viril que muito macho. No outro extremo, Pedro Almodóvar tem uma sensibilidade toda especial na abordagem das mulheres. Faz cinema como Chico Buarque faz poesia, música. Olhos nos olhos, quero ver o que você diz… Mas Almodóvar é gay assumido, fora do armário, e isso poderá influenciar seu olhar. Fiquemos, então, com Paolo Virzi no belíssimo Loucas de Alegria, para aproveitar um filme em cartaz. Um homem pode filmar as mulheres como elas podem filmar os homens – Laís Bodanzky, em Bicho de Sete Cabeças.

Para evitar que essa conversa se torne preconceituosa, o importante é destacar que começa nesta terça-feira, 20, no CCBB, a Mostra Mulheres em Cena, com curadoria de Andrea Armerntano e Sofia Torre. Até 10 de outubro, serão exibidos 18 longas de importantes diretoras do cinema latino-americano. A argentina Lucrecia Martel, a paraguaia Paz Encina, a peruana Claudia Llosa, a venezuelana Mariana Rondón, a chilena Marialy Rivas. Elas não vêm apenas mostrar seus filmes, mas também debater com suas colegas brasileiras – Laís Bodanzky, sim, Lúcia Murat, Anna Muylaert, Tata Amaral – a pauta das mulheres em pleno século 21. O empoderamento, por mais que a palavra bata nos nervos de muita gente, homens e mulheres.

Pense em filmes como Bicho de Sete Cabeças, tão importante no processo de retomada do cinema brasileiro, no começo dos anos 2000. Em Quase Dois Irmãos, Um Céu de Estrelas. E em O Pântano, Hamaca Paraguaia, La Teta Assustada. As grandes diretoras não falam só de mulheres. Um jovem em choque com a autoridade paterna e submetido à violência do sistema manicomial. As trajetórias de dois amigos, quase irmãos, nos anos de chumbo da ditadura militar. A cabeleireira Dalva e seu marido violento. E as duas famílias à beira da piscina na qual nunca entram, de tal forma a água está suja (O Pântano), os dois velhos à espera de quê, em frente à casa que delimita a floresta (Hamaca Paraguaia), a mulher que teme tanto a violência masculina que introduz uma batata na própria vagina (La Teta Assustada). Diferentes como são todos esses (grandes) filmes, têm em comum o desejo das diretoras de dar seu testemunho sobre o mundo atual. Cada uma filma de um jeito – não existe um manual da mulher na direção.

Num texto distribuído à imprensa, as curadoras destacam que as autoras selecionadas pertencem à mesma geração, o que vai permitir um interessante diálogo entre os filmes. “Eles têm temas como diversidade sexual, discriminação da mulher, devoção religiosa, contextos políticos e sociais. Possibilitam uma ampla revisão da realidade latina por parte do espectador.” Existem diretoras que se incomodam com o discurso de gênero. Alguns filmes serão revistos, outros, descobertos. Uma coisa é certa – homens, dirigindo os filmes citados, muito provavelmente fariam obras bem distintas.

MULHERES EM CENA

Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Álvares Penteado, 112. Tel.: 3113-3651. 4ª à 2ª, 21h. R$ 10. Até 10/10

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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