Berlim – No sábado à noite, o diretor coreano Im Kwon-taek recebeu o Urso de Ouro de carreira, como homenageado especial do 55.º Festival de Berlim. Foi aplaudido de pé por artistas de todo o mundo. No domingo, Kwon-taek concedeu entrevista, numa suíte do Hotel Hyatt, em frente do Berlinale Palast, o palácio do festival. Estava feliz e lisonjeado. Nada mau, comentou, para quem chegou ao cinema meio por acaso. Kwon-taek nasceu em maio de 1938 em Changsong, uma cidadezinha do Mar Amarelo. Mas não foi aí que ele se criou e sim em Kwanggiu, capital da província de Cholla do Sul, para onde seus pais se transferiram com os sete filhos.
Seria uma típica família coreana de camponeses se o pai não fosse simpatizante de esquerda e não educasse os filhos com preocupação humanista. No fim da 2.ª Guerra, a família, empobrecida, enfrentou o turbilhão político que envolveu a Coréia do Sul. Um tio, simpatizante do comunismo, transferiu-se para o Norte, mas deixou a família sob suspeita. A mãe de Kwon-taek foi presa e torturada. Estava grávida, perdeu o bebê. Fugindo da pobreza (e da política), o jovem Kwon-taek foi trabalhar no porto de Pusan. Nunca pensara em ser cineasta, na sua cidade nem havia cinema. Mas, em 1956, após várias tentativas frustradas em várias profissões, alguns amigos o levam para trabalhar como auxiliar técnico na realização de filmes.
Evolui rapidamente na profissão. Torna-se diretor em 1962. Mas ele conta: "Fazia filmes sem coração. Era só um técnico que tentava imitar Hollywood". Dirigiu comédias, filmes de ação e até westerns. Em 1973, Kwon-taek já tem 50 filmes no currículo quando começa a se interrogar sobre a profissão que escolheu. Foi nesse ano que realizou o filme que marca a virada de sua carreira. Nos anos seguintes e até hoje, realizou mais de 90 filmes.
Pelo menos dois chegaram aos cinemas, Chunhyang e Bêbado de Mulheres e de Pintura. Reconhecido como patriarca do cinema coreano, Im Kwon-taek é o farol que ilumina a geração dos novos, como Kim Ki-Duk, a quem admira muitíssimo.
