São Paulo – O primeiro programa da série sobre Chico Buarque, Meu Caro Amigo, será exibido até hoje no canal 605 da Directv, em horários alternados (12h, 13h30, 15h, 16h30, 18h, 19h30, 21h, 22h30, 0h e 1h30). Outros dois virão a seguir: À Flor da Pele entra em 23 de fevereiro e Vai Passar está previsto para 23 de março. A série é dirigida por Roberto Oliveira.
São muitos os problemas do programa. Mas também são tantos os seus pontos memoráveis que seria mesquinharia reduzi-lo aos seus defeitos. Estes têm de ser assinalados, a bem da verdade. O epicentro da história é a cidade do Rio de Janeiro, mas talvez ela pudesse ser filmada de maneira menos convencional. O programa tem por tema as parcerias musicais de Chico Buarque. Mas, nesse caso, por que se "perde?? tanto tempo com Dorival Caymmi, que nunca compôs uma música com Chico? Quer dizer, o programa não mantém o foco narrativo. Sem conceito bem definido, sofre com a edição.
Mas as aspas acima se justificam. É que nunca se "perde tempo?? vendo ou ouvindo Caymmi, esse gênio zen que, além de compositor, é também uma lição de vida ambulante. Pelo contrário, Caymmi é um senhor do tempo. As histórias que Chico conta a respeito do compositor baiano são engraçadíssimas, e exemplares. Como a do verso final da música Adalgisa, que levou dez anos para ficar pronto. Qual é esse verso? "Com a graça de Deus, ainda lá.?? E só. Caymmi é a síntese tropical perfeita.
Essas cenas com Caymmi fazem parte do material de arquivo. Da mesma forma que outras, com artistas como Tom Jobim e Elis Regina, que já se foram. Nas cenas gravadas agora vemos um Chico maduro, em excelente forma para os seus recém-comemorados 60 anos e explicando seu método de composição. Diz que "anda a serviço", quer dizer: resolve seus problemas de escritor e compositor enquanto caminha pelas avenidas à beira-mar ou pelas ruas do centro do Rio. Numa delas, vemos Chico subir as escadarias da Biblioteca Nacional.
Chico fala de seus parceiros – Tom, Vinícius, Francis Hime, Toquinho – e as cenas em flash-backs os mostram em ação, quer dizer, tocando, cantando, se apresentando em público. É pena que poucas vezes o programa se preocupe em colocar uma legendinha que seja para explicar ao distinto público em que ano e onde se deu aquela apresentação. Por que o medo da informação? Ela só enriqueceria o programa. Fica aí a sugestão para os próximos dois módulos: se houver tempo ainda, que se identifiquem as imagens de arquivo.
Esses defeitos são compensados por alguns momentos de puro encanto. As conversas de Chico com Caymmi e Tom são de antologia. E o que dizer das músicas? Além da inédita Renata-Maria, Chico canta Falando de Amor e Maninha, com Tom Jobim; Pois É, com Elis Regina, e Samba do Grande Amor, com Djavan. Quem não se arrepiar com Para Todos, com Tom, Caymmi, Djavan, Gal Costa e Daniela Mercury pode procurar um especialista. Deve estar com a sensibilidade embotada. Só por esses momentos de magia o programa vale, e muito.