Mãe de Inácio, de 8 anos, e Martin, de poucos meses, Dira Paes está feliz da vida de estrear novo filme – Mulheres no Poder, de Gustavo Acioli – e também de protagonistas de Velho Chico, a novela de Benedito Ruy Barbosa dirigida por Luiz Fernando Carvalho. As personagens não poderiam ser mais diferentes. Uma senadora corrupta – mas Dira espera que fique claro que Pilar está se corrompendo pela primeira vez – e uma professora, Beatriz, totalmente dedicada a transmitir conhecimento para seus alunos.

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“A Pilar foi divertida de fazer porque tem esse lado glamouroso e também a gente vê que ela se deslumbra com a questão do poder. No jogo de influências de Brasília, tem uma veterana que quer usar a Pilar, mas ela consegue dar a volta por cima. E a Pilar tem esse motorista que também é amante, um homem que ela usa, como um brinquedinho. Acho muito interessante que o Gustavo (Acioli) esteja falando dessa representação da política no momento em que ocorre tudo isso no País. Acho que o risco é o público estar saturado da política real e não querer ver a de ficção. Eu recomendo, mas, realmente, a coisa anda tão surreal que nosso filme parece só um esboço do que está acontecendo.”

Dira defende o filme como espelho da realidade, mas percebe-se que ela tem um carinho especial pela personagem da TV. “É meu segundo trabalho com Luiz Fernando (Carvalho) – o primeiro foi a novela Irmãos Coragem, há 20 anos – e é sempre um privilégio, porque ele é um diretor que, mesmo nesse ritmo industrial que virou a televisão, tem essa abertura para o artesanal, para o improviso. Luiz Fernando respeita a sacralização do trabalho do ator, e isso é coisa rara na TV.”

Formar dupla com Irandhir Santos também é a gratificante. “O Irandhir é um querido”, resume. Ao longo de seus 30 anos de carreira – iniciada com a índia de A Floresta das Esmeraldas, de John Boorman -, Dira fez exclusivamente cinema por uns 20 anos. Nos últimos dez foi que começou a se dedicar à TV, e a resposta do público foi imediata. Antes conhecida de poucos, Dira conquistou o grande público desde A Diarista.

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“Quando me chamou para fazer a Beatriz, Luiz Fernando me disse que queria resgatar a importância do amor com a novela. Disse que a Beatriz seria a própria representação do amor, mas eu não a vejo como uma romântica, e menos ainda tradicional. O amor da Beatriz é pelas crianças, pelo ensino, pela transmissão do conhecimento. Beatriz não se conforma com a precariedade em que vivem seus alunos. Luta para que eles possam ter condições mais dignas.” E a luta de Dira? “Minha utopia é ver o abismo social diminuir no Brasil. É um pecado que, na realidade, as pessoas se matem por terra, como na novela.” Dira entende essa mulher sem filhos – mas mãe de seus alunos. Confessa – por mais que goste de ser atriz, ela gosta mesmo é de ser mãe.

Tem sido uma luta conciliar o trabalho com os filhos – ela amamenta Martin. No ano passado, Dira fez sensação ao aparecer nua, em calientes cenas com Cauã Reymond, na minissérie Amores Roubados. O negócio dela não é ficar se mostrando. “O papel exigia. Fiz.” Mas ela acha importante desconstruir o estereótipo de que a mulher madura, e com filhos, não possa ser sexy. Só que não é esse – o olhar das pessoas para seu corpo – que a gratifica. “Quando estou amamentando o Martim e ele me olha. Meu Deus! O olhinho dele é a coisa mais linda. Me sinto forte, uma supermulher. Tenho certeza de que um monte de mulheres vai saber do que estou falando.”

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.