Diogo Vilela sempre manteve uma postura discreta em relação à sua imagem. “Nem sempre aceitava convites para eventos ou mesmo entrevistas”, comentou o ator ao jornal O Estado de S. Paulo. “Mas agora, aos 62 anos, acho que preciso me aventurar mais, reforçar mais minha imagem.” O que significa isso? Que Vilela decidiu aceitar o chamado antes recusado de Fausto Silva para participar da Dança dos Famosos. Também vai integrar o elenco renovado do humorístico Zorra. E, finalmente, rendeu-se ao convite dos fãs para, no palco, retornar à comédia, gênero do qual é um mestre: para os paulistanos, isso acontece a partir desta sexta-feira, 24, com a estreia de A Verdade, no Teatro Vivo.

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Vilela conta que tudo foi bem planejado – a ponto de, em agosto, ele seguir para Portugal onde pretende escrever sua biografia, auxiliado por uma amiga que, como ele, é fã da escrita do escritor francês Marcel Proust, especialista em captar os movimentos da alma humana. “Temos o desafio de escrever uma biografia romanceada, pois eu me identifico com a narrativa proustiana, um caminho pensante que sempre me ampara.”

A palavra, portanto, é fundamental no trabalho de Diogo Vilela. Daí sua opção pela peça A Verdade – escrita pelo dramaturgo francês Florian Zeller, trata-se de uma engenhosa comédia em que quatro personagens são envolvidos em uma sucessão de erros até que, a poucos minutos do final, um lance surpreendente promove uma grande reviravolta. “No início, o público estranha a sucessão de fatos até que as peças vão se juntando para o grande encerramento”, conta Vilela, que divide o palco com Bia Nunnes, Carolina Gonzalez e Paulo Trajano.

“O que me fascina na peça é o jogo que a dramaturgia propõe”, comenta o diretor Marcus Alvisi. “O texto é todo tempo inesperado, vindo dessa tradição da comédia francesa, como o vaudeville e o boulevard, com uma pitada das peças de Harold Pinter.”

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Segundo o ator, Alvisi entendeu com precisão os meandros da prosa de Zeller, cujo espetáculo já foi montado até na China e Coreia do Sul. “A comédia é uma arte epitelial, ela traz felicidade para as pessoas por meio do humor”, conta Vilela, cujo talento para provocar o riso foi detectado ainda criança, pelo pai, que observou: “Você faz bem para as pessoas”.

Depois de notado, o talento do garoto foi burilado pelas idas à ópera, acompanhado de uma tia. O passeio ajudava na recuperação de uma nefrite, que atacou Vilela aos 9 anos. “Fui desenganado pelo médico, mas meu pai, confiante, me animava por meio da arte, chegando a construir um pequeno teatro para me entreter.”

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Destino é um conceito muito vago, mas, existindo ou não, foi ele que conduziu Diogo Vilela a trabalhar com veteranos da arte cênica brasileira, verdadeiros pilares da arte de representar. “Ziembinski, o grande encenador, me viu em uma peça infantil e ficou encantado: ele me ensinou diversos truques da profissão. Em seguida, trabalhei com outra figura fundamental, a atriz Henriette Morineau, com quem dividi o palco em Ensina-me a Viver, em 1981.”

A lista é engrossada ainda por trabalhos ao lado de Sérgio Britto e Cleyde Yáconis, a quem Vilela outorga o título de Anjo da Guarda do teatro brasileiro. “Com seu talento, ela substituiu, em peças, artistas que morreram repentinamente, como a própria irmã, Cacilda Becker.”

O talento logo o levou para a televisão, na qual o grande destaque foi participar da trupe (que contava com, entre outros, Regina Casé e Marco Nanini) o humorístico TV Pirata, a partir de 1988, que apontou para uma nova vertente da comédia televisiva. “Chegamos com uma nova forma de fazer humor, inovadora, dando continuidade ao que faziam Chico Anysio e Jô Soares.”
Ali, ele iniciou seu ensinamento sobre o humorismo. “Hoje, a graça está na síntese. Veja o sucesso de Paulo Gustavo: seus papéis o transformaram no comediante das superações.”

Depois de acumular tanta experiência, Vilela descobriu-se um homem comedido. “Sou um paradoxo: só fico à vontade em cena”, reflete ele, agora decidido a se expor mais, aceitando, depois de muito negar, o convite para o quadro Dança dos Famosos, além de integrar a nova fase do Zorra, no qual vai conviver com comediantes da nova geração. “Apesar de tudo, ainda prefiro o teatro, que é uma arte invencível.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.