Still On My Mind é o segundo disco que Dido compôs e produziu após o nascimento do filho, Stanley – o mesmo nome do personagem de Eminem na canção Stan, que ajudou a empurrar a estrela da cantora britânica para a escala global. O nascimento, naturalmente, foi algo que mudou a percepção da compositora sobre música – sobre tudo. “Mudou a própria maneira de eu ver o mundo”, atesta Florian Cloud de Bounevialle O’Malley Armstrong (seu nome real), garantindo que está se sentindo bem chegando aos 50 anos.
O novo trabalho – que Dido apresenta nos palcos brasileiros no início de novembro, pela primeira vez no País, ao lado dos antigos sucessos – começa com a artista cantando sobre superar dificuldades e sobre amor (muito do seu repertório aborda esses temas), mas o início de Hurricanes com apenas uma guitarra é logo substituído pela orquestração eletrônica que sustenta as 12 faixas do disco.
Take You Home é um house enfeitado com a voz sutil e bela de estrela pop que Dido manteve ao longo dos anos. A faixa título explora um beat trip-hop com letras lamentando o fato de ter abandonado um amor (embora a cantora esteja casada com o escritor Rohan Gavin desde 2010). Em Friends, a batida dance para cima contrasta com a mensagem da música, que diz “não importa como eu me sinto, já não somos mais amigos”. Have to Say, a faixa que fecha o disco, na verdade foi a primeira da nova leva que Dido compôs. “Você nasceu com um sorriso no rosto / e ele está lá todo dia” – canta para o filho, vencendo assim uma espécie de bloqueio criativo que a acometeu desde o nascimento: o fato de, a princípio, não querer escrever sobre o assunto.
Mas o seu método de composição sem muitas amarras colocou um violão em suas mãos e as palavras sobre maternidade começaram se alinhar. “Eu não achei que ninguém ouviria essa música, mas ela, na verdade, abriu os portões para a minha inspiração”, disse.
Ela afirma ter gostado do resultado de Have to Say. “Fiquei orgulhosa porque resume bem como eu me sinto como mãe e fala sobre esse amor incondicional”, explica a cantora. “Meu disco é sempre um reflexo de onde eu estou na vida, pode não ser intencional, mas certamente aparece.”
Outro é o fato de ela o ter coproduzido o álbum com seu irmão, Rollo Armstrong, parceiro musical também das primeiras empreitadas – o trabalho em família remete à outra pop star, 30 anos mais jovem e em alta conta nas paradas de sucesso e nas canetas dos críticos mundo afora: Billie Eilish. “Eu a amo”, diz Dido sobre a colega de profissão mais jovem. “Quando eu vi que ela também produzia com o irmão, achei tão cool, e me senti tão sortuda. Porque é muito bom não se sentir sozinha na indústria, ter um tipo de casa. Ela também tem a oportunidade de se apresentar com o irmão, o que eu achei demais – queria que Rollo estivesse na minha banda”, brinca.
O novo disco também não tinha um pré-contrato regendo as condições, o que a deixou livre para criar sem nenhum tipo de pressão externa. “Ninguém estava esperando isso. Foi libertador nesse sentido”, explica.
Dido passou muito tempo em casa – primeiro dando atenção ao pai, até sua morte em 2008, e mais tarde cuidando do filho, agora com oito anos – ela reconhece que o tempo afastada pode tê-la distanciado do show business e dos artistas mais jovens. “Eu apenas gosto muito deles. Respeito, ouço e apareço em shows. Procuro pessoas na internet, sempre admirei compositores cujas músicas eu e meu filho podemos cantar juntos. Tem tanta gente fazendo tanta coisa boa”, diz, otimista.
Para ela, parar de fazer turnês foi um processo orgânico, e não necessariamente uma decisão. “Eu não sabia que estava parando na época. Estava em turnê direto por nove anos, sem parar, e queria apenas ficar em casa. Meu pai estava doente na época, queria voltar para a minha família. E, então, todo esse tempo passou. O terceiro disco, que fiz nesse período, é tão obscuro, tão cru, que eu achei que não daria uma turnê. Depois com o quarto, foi quando meu filho nasceu, e eu não queria deixá-lo sozinho. Então, teve isso. Eu raramente faço planos, não tenho uma visão clara do que o futuro será. Eu estava perdendo coisas da vida.”
No fim de 2018, porém, um sino bateu e ela decidiu voltar para a estrada: shows na Europa e na América do Norte estão ocorrendo desde maio, e sua primeira turnê sul-americana começa no dia 31, em Buenos Aires.
Mais experiente e voltando ao trabalho, a cantora diz não procurar respostas na arte para os problemas do mundo contemporâneo. “Quando o mundo fica mais incerto, eu foco em coisas menores. Eu não consigo olhar para o quadro geral justamente porque ele é muito grande.”
DIDO – STILL ON MY MIND TOUR
CREDICARD HALL. AV. DAS NAÇÕES UNIDAS, 17.955, SANTO AMARO, TEL. 4003-5588 2/11. DIA 2/11, ÀS 22H. INGRESSOS: R$ 100 / R$ 700.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.