Prestes a completar 25 anos de carreira como ator, Fábio Assunção vive um período de mudanças profissionais. Na semana passada, iniciou as gravações da quinta e última (e reduzida) temporada da série Tapas & Beijos, de Cláudio Paiva. Com o fim do projeto, passa a se dedicar ao papel de protagonista do próximo folhetim das 19h, que tem Poderosa como nome provisório. “Me sinto super à vontade no Tapas, mas transito melhor no drama do que no humor”, diz.
Enquanto finaliza a comédia, dá vazão à sua veia dramática dirigindo Dias de Vinho e Rosas, que estreia sexta, 20, no Viga Espaço Cênico, em São Paulo.
Fábio levou um tempo para se aventurar como diretor teatral. Foi em 2012 que ele estreou no comando do espetáculo O Expresso do Pôr do Sol, que ocupou o teatro Tucarena, em São Paulo. Apesar de ser apenas o primeiro mergulho na empreitada, o trabalho como encenador foi bem-visto e, pelo menos, chamou a atenção da atriz Carolina Mânica, que o convidou para dirigir a nova peça.
“Quando li o texto, logo pensei que o espetáculo tinha a ver com a linha que Fábio vinha trabalhando em sua primeira direção”, comenta a atriz, afirmando que as duas peças têm pontos em comum: são dois atores que nunca saem do palco, as histórias se passam em um lugar confinado e tratam de temas profundos e universais.
Dias de Vinho e Rosas é uma peça fragmentada, com texto original de James Pinckney Miller para televisão e adaptação de Owen MacCafferty para teatro. A obra virou filme em 1962, sob o nome de Vício Maldito, com direção de Blake Edwards. Em nove cenas, a peça mostra a história do casal Donal (interpretado por Daniel Alvim) e Mona (papel de Carolina), dois irlandeses que se conhecem no aeroporto de Belfast, quando estão a caminho de Londres. Na ocasião, se apaixonam e, tempos depois, começam a namorar e levam uma vida a dois. Apesar das esperanças de um relacionamento feliz e estável, o casal começa a degringolar, tendo o alcoolismo como um catalisador.
“Gosto de mostrar essa relação psicológica de duas personagens, o desgaste de um relacionamento”, diz Fábio, lembrando que a temática se repete em outras peças nas quais trabalhou, como Bate Outra Vez (1993, direção de Eduardo Wotzik), Oeste (1996, com direção de Marco Ricca) e Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (2000, dirigida por João Falcão). “Tudo que tenho feito no teatro são peças pequenas, no sentido de serem mais intimistas.”
Foi exatamente esta característica que definiu a escolha do Viga Espaço Cênico para abrigar a peça. Desde O Expresso do Pôr do Sol, o local tem influência significativa na direção de Fábio. No caso, o Tucarena conferiu à peça um tom menos realista e mais onírico. Agora, ocorre o contrário. “A ideia é fazer um retrato realista do cotidiano”, afirma Clara Carvalho, que, após traduzir o texto de Dias de Vinho e Rosas, foi convidada a ser assistente de direção.
Dessa forma, o jogo teatral foi exposto. O palco cresceu e tomou o espaço dos camarins e das coxias, fazendo com que tudo fique aberto ao público. Os atores circulam o tempo todo por uma casa ampla, com sala, cozinha e um quarto mais discreto, ao fundo.
A dupla de atores também assume a contrarregragem, que, na peça, ganha função dramatúrgica. Como cada uma das cenas começa em um ponto diferente da vida do casal, é no intervalo entre elas que o relacionamento evolui. Assim, enquanto a luz está baixa, os atores arrumam os objetos com a intensidade dos personagens: em um momento, por exemplo, ambos fazem movimentos bruscos para manejar taças e garrafas.
Além do alcoolismo, outro vício permeia o espetáculo. Donal é bookmaker e está sempre às voltas com apostas em corridas de cavalo. “Começo a entender esse personagem com um outro que fiz”, conta Alvim, em referência a uma novela que exigiu do ator uma pesquisa profunda no universo do hipismo. Na peça, Donal fala de sua relação com o cavalo irlandês Arkle, que existiu e era campeão das corridas inglesas nos anos 1960. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.