A primeira edição da Semana de Arte, que começa nesta segunda-feira, 14, e vai até domingo, 20, foi organizada em torno de uma feira de arte com 39 galerias nacionais e estrangeiras, mas ela abarca uma série de eventos de música, dança, artes cênicas, cinema e literatura realizados em outros espaços além do Hotel Unique, contemplando ainda a arquitetura de São Paulo com passeios e um ciclo de palestras, no Centro Universitário Belas Artes.

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Quatro conhecidos nomes estão envolvidos na organização da Semana, que tem patrocínio do Bradesco e apoio do Ministério da Cultura: Emílio Kalil, que foi secretário da Cultura do Rio, os galeristas Luisa Strina e Thiago Gomide e o curador Ricardo Sardenberg. Realizado com um orçamento de R$ 2,5 milhões, o evento foge ao modelo de uma feira de arte convencional e foi organizado, de fato, como uma semana cultural em que o diálogo entre as artes pretende estimular a produção de obras interdisciplinares.

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Assim, a literatura se encontra com a música numa conversa entre a escritora Conceição Evaristo e o bandolinista Hamilton de Holanda, no Tucarena, onde serão realizados os eventos nas áreas de dança, teatro e cinema. Já no dia de abertura, hoje, às 21 horas, será realizado o encontro de dança, que tem curadoria da crítica Helena Katz. A atriz Maria Luisa Mendonça faz uma performance e a curadora conversa com a plateia sobre a relação entre dança e artes visuais, citando exemplos como a colaboração entre a bailarina Martha Graham e o escultor Isamu Noguchi ou a parceria do coreógrafo Merce Cunningham e o pintor Jasper Johns.

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Na área de cinema, a Semana exibe no Cinesesc (dia 19) o documentário Não Esqueça que eu Venho dos Trópicos, sobre o principal nome do surrealismo brasileiro, a escultora Maria Martins, sessão que será seguida por uma conversa entre os realizadores e a biógrafa Graça Ramos. Na área teatral, a leitura dramatizada do espetáculo Trate-me Leão com o diretor Hamilton Vaz Pereira marca os 40 anos dessa criação coletiva do grupo carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone.

O empresário cultural Emílio Kalil justifica escolhas como essa não como um sentimento nostálgico da experimentação dos anos 1970, mas o revival de um espírito interdisciplinar que, no passado, fez emergir, por exemplo, o movimento tropicalista, que mobilizou músicos (Gil, Caetano), artistas plásticos (Hélio Oiticica, Gerchman), gente de teatro (José Celso Martinez Corrêa e grupo Oficina) e outras áreas. “Há, claro, grupos de artistas ainda atuantes, mas não o cruzamento interdisciplinar do passado”, observa Kalil.

Para estimular a discussão sobre o legado de movimentos históricos, os organizadores da Semana pediram aos galeristas que levassem aos estandes montados no Hotel Unique projetos especiais de exposições monotemáticas. Assim, a feira de arte, que começa na quinta-feira, dia 17, terá, segundo o curador da parte visual, Ricardo Sardenberg, a remontagem da sala dedicada ao artista concreto Ridias (José Ricardo Dias, 1948-1979) na Bienal de São Paulo de 1977, entre outros eventos, o que inclui uma mostra dedicada ao dadaísmo e surrealismo e uma individual com três telas inéditas de Volpi, que, segundo o marchand Paulo Kuczynski, não chegaram a entrar no catálogo raisonné do pintor.

“Tentamos fazer com que as galerias não repetissem os mesmos artistas, evitando que mais de uma levasse obras de Volpi, por exemplo”, diz o galerista Thiago Gomide, sócio da galeria Bergamin & Gomide. Assim, outra galeria, a Almeida & Dale, leva para a feira um conjunto raro de nove esculturas da artista neoconcreta Lygia Clark que praticamente ocupa todo o estande. “Isso só é possível numa feira pequena, em que atuamos com uma curadoria específica para cada uma das galerias, organizando várias exposições simultâneas”, justifica a marchande Luisa Strina, com uma experiência de 43 anos no mercado e feiras internacionais.

Para a feira inaugural da Semana, os organizadores convidaram galerias estrangeiras como a norte-americana Luhring Augustine. E curadores como a historiadora inglesa Isobel Whitelegg, da Universidade de Leicester, que vai falar sobre as bienais latinas dos anos 1970 e 1980.