Diagnóstico da realidade por meio da ficção

O escritor Paulo Sandrini vai lançar sua nova intitulada ?Códice d?Incríveis Objetos? (ed. Travessa dos Editores, 165 pág., R$ 25,00) hoje, a partir das 20h30, no Wonka Bar (rua Trajano Reis, 326, tel. 41-3026-6272). Até às 24h a entrada sai por R$ 1,99. Depois, o ingresso custa R$ 6,00 por pessoa. O livro será vendido pela Livrarias Curitiba e a obra também poderá ser encontrada nas lojas da rede ou no site www.livrariascuritiba.com.br

Depois do livro O Estranho Hábito de Dormir em Pé, com seus climas por vezes oníricos, repletos de alegorias e situações absurdas que beiram mesmo o grotesco e coloca em xeque – por meio de filtros ficcionais que refratam os eventos do cotidiano, arremessando-os para a dimensão do fantástico ?  aquilo que se costuma entender por ?realidade?, Paulo Sandrini ressurge com nova obra, seu terceiro livro de contos.

Na obra, o autor traz uma leitura crítica da realidade por meio de alegorias, fabulações e usa a ficção como instrumento para criticar as relações neste mundo de muitos oprimidos por poucos. Dessa forma, o leitor pode vir até a se reconhecer nos personagens desta ficção que apresenta pontos de contato diretos com a realidade, ou seja, a exploração máxima do mais fraco.

Enredo

Alguns elementos do livro anterior ainda se fazem presentes: a opressão sobre o indivíduo e a luta por espaço, por exemplo. Todavia, agora na ficção desse paulista radicado em Curitiba, surgem paródias sobre a vida tecnicizada como no conto Nano, em que um micro robô percorre o corpo de um personagem para desobstruir artérias e bombardear cânceres, mas que num ponto da narrativa se livra de todo o monitoramento da equipe médica e começa a brincar de se esconder dentro do personagem, a partir daí já não é mais o paciente [o humano] que importa e sim o objeto ali perdido que vale milhões em pesquisas científicas. 

Outros contos desta parte são Sandálias de Hermes, metáfora da impossibilidade de o indivíduo conseguir sair da condição de miséria e alçar vôo em direção a algo mais digno pelo próprio fato de a sua condição lhe parecer definitiva – e isso não seria a condição mesma dos miseráveis num país como o nosso? -, e O Celular Demodê de Amélia, que retrata a nossa relação com a condição provisória dos objetos de consumo e os influxos que a publicidade e a moda lançam sobre os indivíduos, instigando-os sempre a ter mais e mais

Na segunda parte, Histórias de Lebensraum surgem os conflitos nos espaços que se desenvolvem na metrópole, no shopping, no próprio corpo como espaço, na casa, no condomínio [este já havia surgido no conto Martelo de Thor, publicado em O Estranho Hábito de Dormir em Pé] que aqui é retomado por um viés mais bizarro: é a bestialização inapelável do humano e o concreto a devorar ferozmente a paisagem urbana em Oásis. 

Lar (ou D?ablação) narra a história de um tumor que é extirpado, mas que insiste em retomar ao ?seu lugar? nos doentes organismos humanos em decorrência da poluição, da alimentação fast food e do stress cotidiano. Ali, ele crê, é seu lugar de direito. O resultado do livro é um exército de gente com todo tipo de problemas, seqüelas das mais variadas dores da alma a ser diagnosticado por funcionários da indústria fármaco-financeira.

Autor de outras obras, Sandrini parece ser daqueles que não sabem ficar em silêncio, mas que precisa falar de seu tempo, de seus impasses e suas neuroses. Leitores atentos já devem ter conferido alguns dos contos deste livro em revistas e jornais literários e agora têm a oportunidade de reler em edição impecável.

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