Segundo uma pesquisa realizada por um famoso instituto nacional, 56% dos brasileiros não suportam o Carnaval. As distribuidoras de cinema sabem disso e utilizam seu marketing agressivo para cativar o público e aumentar a bilheteria. Os lançamentos desta sexta são variados, nenhum top de linha, alguns com indicações menores para o Oscar, mas todos considerados como entretenimento garantido. Big Fish ou Peixe Grande no título nacional de Tim Burton e Confidence – O Golpe Perfeito, com uma turma de atores de primeira linha, são os melhores.
Fábula e magia em “Peixe Grande”
Ed Bloom é um impostor ou tem apenas imaginação privilegiada? É o que terá de decidir o espectador de “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, de Tim Burton. Bloom, interpretado na velhice por Albert Finney e na mocidade por Ewan McGregor, é um homem de histórias extraordinárias. Segundo esse magnífico contador de casos, ele, quando jovem, deixou a terra natal em companhia de um gigante, encontrou uma cidade maravilhosa onde todos vivem descalços e felizes, conviveu com uma bruxa e assim por diante. Tudo vem na forma de um registro visual marcante, alegre, que reforça o ambiente de fábula.
O fato é que Tim Burton é dos poucos cineastas americanos com peito suficiente para soltar a fantasia e expressar um desprezo evidente pela linguagem realista do cinema, dominante em seu país – e, por extensão, no restante do mundo.
De fato, o tema desse filme, adaptado de um romance de Daniel Wallace, faz bem a ponte entre o mundo da realidade e o da fantasia. De um lado temos um pai que pode ser visto como alguém que levou uma vida tão interessante que parece fantástica – pelo menos em sua versão. De outro, um filho para quem essas mesmas histórias do pai não passam da mais rematada e constrangedora mentira. Há também aquele tipo inevitável de balanço existencial, pois o filho mora na França e regressa para os Estados Unidos quando sabe que o pai está doente e vai morrer.
Por isso, limitar a invenção artística a ela é restringir a extensão do humano. Burton, sem ser nada intelectual, sabe disso, como se vê em alguns dos seus filmes anteriores como “Edward Mãos de Tesoura”, “Batman,” “Ed Wood” e “Planeta dos Macacos”. Aliás, sua vocação gótica não esconde a preferência pelas zonas de sombra da natureza humana.
Essa aproximação do cineasta com sua memória, sua disposição para tratá-la de maneira ficcional, é outro ponto de contato com Fellini. Não se trata de comparar qualitativamente um com o outro, é bom deixar bem claro para evitar confusões. Seria a mesma maldade de comparar Robinho com Pelé, ou um boxeador talentoso com Muhammad Ali.
Gênios são incomparáveis. Mas abrem caminhos que eventualmente podem ser seguidos por epígonos. Parece ser o caso, e Peixe Grande, apenas um bom filme, exibe semelhanças com a estrutura formal de uma obra-prima como 8 1/2.
Confidence – O Golpe Perfeito
Uma aventura fraca e previsível, mas com um elenco de primeira qualidade – Edward Burns, Dustin Hoffman, Andy Garcia e Rachel Weisz.
O resumo diz que se trata de um grupo de trambiqueiros que se une para aplicar um golpe milionário. São eles: Jake, que acaba de surrupiar dinheiro de um mafioso; “The King”, excêntrico chefão do crime e Lily, uma batedora de carteiras loura e atrevida. Seguindo os rastros de Jake está o policial Gunther, um velho conhecido do malandro. Edward Burns é o personagem principal, um ator técnico e que consegue segurar a platéia.
Dustin Hoffman está impagável como o chefão do crime meio homossexual, se é que pode ser verdade. “Quando examino um projeto, procuro saber quem está envolvido nele. Ed Burns e Hoffman já estavam. Eles são gente que eu admiro.”
A batedora de carteiras dos malandros é a excelente atriz Rachel Weisz. “Eu trabalho sozinha, eu vivo sozinha. Eu ajo sozinha,” diz sucintamente Weisz da durona e independente Lily.
Weisz estudou cada detalhe do seu personagem, chegando a recorrer a um mágico para aprender o melhor jeito de se bater uma carteira.
O grupo se encerra com Andy Garcia que utiliza seu ótimo visual para parecer o bom menino na história, como agente do FBI.