São Paulo – O pop nacional bem que tenta, mas não houve ainda uma banda que superasse o sucesso avassalador do grupo Mamonas Assassinas. É um mito construído com um único disco, 2,3 milhões de cópias vendidas e uma carreira de apenas oito meses, interrompida há exatamente dez anos num desastre de avião. Em 2 de março de 1996, o Lear Jet que trazia nove pessoas entre elas os cinco integrantes da banda que havia tocado para 8 mil pessoas em Brasília, colidiu com um morro da Serra da Cantareira.
Ainda que boa parte do meio musical não tenha entendido de pronto a febre Mamonas, visto com dez anos de distância o fenômeno que transformou os meninos humildes da periferia de São Paulo em artistas de projeção nacional não é difícil de explicar Alguns anos antes de ganhar as paradas como Mamonas, o grupo fazia sucesso comedido entre os moradores jovens do Parque Cecap um imenso conjunto habitacional de Guarulhos. Eram o Utopia, banda de rock tradicional – boa, é verdade, mas mais uma na multidão.
De especial, o grupo tinha o vocalista Dinho que, lindo demais, fazia a platéia dos shows lotar de meninas. Nas horas vagas, ele divertia amigos e parentes com músicas engraçadas, escrachos delirantes que, sem exagero, montam retratos precisos do povo brasileiro – a mania de abrir crediário nas Casas Bahia, a velha Brasília amarela "very porreta", o inglês "veri gud", as pitchulas e as farofadas na praia.
Para que aquelas brincadeiras de fora do palco virassem faixas de disco em estúdio foi um pulo, com o empurrãozinho de um produtor esperto – apesar da relutância de Dinho em abandonar o "rock a sério". Assumidamente palhaços, os meninos reapareceram como Mamonas Assassinas, grupo que misturava a graça com o rock, e o rock com forró, samba e toda a gama de ritmos que fazem a música brasileira. Era um rock para agradar quem gostava de rock e também quem nem sabia direito o que é rock. Fora isso, um vocalista que conseguia ser ao mesmo tempo bonito e engraçado, um tipo de carisma que não costuma encontrar com tanta facilidade. E, para ele, um romance com uma jovem modelo, que lhe arrancava beijos de novela no palco nos programas dominicais de auditório.
"Fico surpresa porque parece que o fenômeno dos Mamonas é algo que não pára de crescer", diz Valéria Zoppello, namorada de Dinho na época áurea do sucesso. Depois de uma investida como atriz e hoje vice-campeã do campeonato CPC Pick-up, Valéria prefere acompanhar a distância a história que se forma em torno da banda. "Eu me lembro de toda dor, do susto, e hoje mantenho contato com a família do Dinho, mas procuro seguir a minha vida. Claro que as pessoas se lembram do nosso namoro, mas já me reconhecem pelo meu nome e não só porque fui a namorada do Dinho "
Nos cinemas
Parecia mesmo ser a história perfeita que, paralelamente à efeméride começa a ser contada em filme – "Mamonas Assassinas, O Filme" – , um projeto da produtora Tatu Filmes. A equipe do produtor Cláudio Kahns trabalha agora numa série de entrevistas com pessoas que conviveram com os cinco integrantes da banda. "Este material vai servir para a composição do roteiro", explica ele.
O roteiro será escrito pelo jornalista Dagomir Marquesi, que agora trabalha no argumento. De início, a produção iria se basear no livro "Blá, Blá, Blá – A Biografia Autorizada dos Mamonas Assassinas" (L&PM), de Eduardo Bueno, o Peninha. Escrito em apenas 18 dias e lançado em junho de 1996, o livro vendeu mais de 100 mil exemplares. "Percebemos que, como o livro foi lançado no calor dos acontecimentos, logo após a morte deles, há muitos dados que ainda precisam ser levantados", observa Marquesi.
Ele adianta que, apesar da grande preocupação com a pesquisa, a intenção não é fazer um filme documental. "Será a história deles, mas com uma linguagem de ficção", diz.
Há um ano, quando começou a tocar o projeto, a produtora tinha a intenção de lançar um concurso na TV para a escolha dos atores principais. Agora, no entanto, a seleção é um mistério. "Estou de olho em alguns atores, mas não temos nada definido ainda", diz Kahns. "É uma seleção especial, que precisa ser muito bem-feita. Além de parecerem com os cinco Mamonas, os atores vão ter de tocar e cantar também", avalia Marquesi.
Grande fã do grupo – que quando soube do projeto foi se oferecer para fazer o roteiro -, Marquesi diz que o filme pretende não só reafirmar o mito, mas também formar novas gerações de seguidores. "Trabalhar no roteiro só aumentou a admiração que eu tinha pela banda. Eles tinham uma visão muito avançada da música, e eram geniais sem saber", afirma. "É uma história quase épica, com todos os elementos para um grande filme."