Desprestigiado na Globo, Tiago Santiago foi escrever novela na Record

Tiago Santiago calcula que, na melhor das hipóteses, só escreveria a sua primeira novela na Globo em dez anos. Na pior delas, talvez nunca. Por isso mesmo, não vacilou ao ser convidado para fechar com a Record. Com menos de três meses de emissora, teve seu contrato prorrogado até 2007.

Com o sucesso de A Escrava Isaura, que registrou média geral de 15 pontos, até 2009. Uma das novelas previstas no novo contrato, Prova de Amor, estréia dia 24, com trama atual, cenário carioca e "merchandising social". "O convite para trocar de emissora mudou a minha vida. Já me sentia desprestigiado na Globo", queixa-se Tiago, eterno colaborador de Lombardi em novelas como Uga Uga e Kubanacan.

 Em sua segunda experiência como autor, Tiago retoma o argumento de O Príncipe e o Mendigo, de Mark Twain, através da história dos gêmeos Eduardo e Joãozinho, interpretados por Pedro Malta. O tema das crianças idênticas, uma pobre e outra rica, já havia sido utilizado por ele no episódio Pobre Menina Rica, do Você Decide, em abril de 1996. Em Prova de Amor, Tiago planeja tirar proveito da situação para promover uma campanha de utilidade pública. A exemplo do que fez Glória Perez em Explode Coração, de 1995, ambiciona reencontrar crianças desaparecidas. "Nos seis anos em que fiz Você Decide, constatei que tramas envolvendo crianças sempre dão boa audiência. Vamos ver se consigo repetir a mágica…", brinca.

P – Ao contrário de A Escrava Isaura e Essas Mulheres, Prova de Amor é contemporânea. De quem partiu a idéia?

R – Partiu de mim. Só assim, não corria o risco de me repetir. A princípio, a Record sugeriu que eu fizesse uma nova versão de A Pequena Órfã, do Teixeira Filho. Gostei da idéia, mas não vi sentido em falar de crianças carentes ou desaparecidas em 1968. Propus, então, que trouxéssemos a história para os dias de hoje. "A emissora aprovou. Inclusive, vou ter a chance de fazer merchandising social"…

P – A princípio, Prova de Amor" seria gravada em São Paulo e Cidadão Brasileiro", do Lauro César Muniz, no Rio. Gostou da troca?

R – Muito, porque vou ter a chance de explorar a sensualidade de um elenco muito bonito e saudável. Em minha novela, não vão faltar praia, biquíni e mulher bonita. É claro que tem a limitação do horário. Às sete da noite, não se pode ousar muito. Mas também não vou deixar barato. Prova de Amor" vai ser a mais carioca das novelas já feitas fora da Globo.

P – A Record é ligada à Igreja Universal do Reino de Deus. Já sofreu algum tipo de censura?

R – Nenhum. Quando cheguei na Record, a única recomendação que recebi foi do Herval Rossano, que me pediu para não incluir cenas de candomblé em A Escrava Isaura. Mesmo assim, coloquei os personagens falando em iorubá, jogando búzios, dizendo axé etc. A única coisa que não fiz foi baixar o santo em ninguém. O resto todo eu fiz e nunca tive qualquer cerceamento da Record.

P – Você saiu da Globo depois de quase 20 anos. Quanto tempo você acredita que levaria até escrever sua primeira novela lá?

R – Não sei. Talvez dez anos. Talvez nunca… Quando o Herval foi promovido a diretor de Núcleo, sugeriu que eu escrevesse uma novela. Em vão. Anos depois, o próprio Lombardi se ofereceu para supervisionar o meu "remake" para O Profeta, de Ivani Ribeiro. Novamente, o gato subiu no telhado. Quando vi gente com menos casa do que eu escrevendo novelas, cheguei à conclusão de que era hora de sair. O convite da Record foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido…

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