Nas pesquisas para finalmente recuperar o painel Abstrato de Candido Portinari na Galeria Califórnia, na Rua Barão de Itapetininga, centro de São Paulo, foi encontrado um desenho inédito do renomado pintor – a maquete executiva do painel, que mostra exatamente o que Portinari previa para o local.
A obra agora revelada – adaptada para a estrutura da galeria, com áreas em cinza nas bordas e a rampa que levaria ao antigo Cine Barão, no subsolo – não está catalogada pelo Projeto Portinari, que identificou 6,3 mil trabalhos do artista desde 1979.
O desenho faz parte da coleção do arquiteto Carlos Lemos, chefe do escritório de Oscar Niemeyer na década de 1950 – foi Niemeyer quem projetou a Galeria, em 1951.
“Ao que parece, a novidade é que Portinari demonstra com esse desenho sua intenção em adaptá-lo ao painel da parede. Como, para nós, entender os motivos do artista é sempre relevante, vamos voltar a São Paulo para colher novas informações”, disse a pesquisadora- chefe do Projeto Portinari, Noélia Coutinho.
Mais do que nova obra no catálogo do artista, o trabalho revela uma história desconhecida. A primeira descoberta é que o projeto contratado nunca foi executado: o painel deveria ser figurativo, representando bandeirantes paulistas.
Seria inspirado no Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, na frente do Parque do Ibirapuera, zona sul da capital. Mas o artista nunca chegou a produzir o trabalho. Em outubro de 1953, entregou um desenho abstrato – com base em estudos produzidos dois anos antes, segundo consta dos arquivos do Projeto Portinari.
“Um dia, a construtora do prédio (Companhia Nacional de Investimentos, CNI) começou a cobrar e liguei para o Portinari. Ele disse que, por falta de tempo, não faria mais o painel da forma combinada”, conta Lemos, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e então responsável pela obra.
“Fui de trem até o Rio buscar o desenho. O que o Portinari fez foi simplificar o trabalho. E entregou o desenho que está lá até hoje.”
O que impediu o artista de realizar o combinado provavelmente foi excesso de serviço: entre 1951 (projeto da galeria) e 1955 (sua inauguração), ele produziu 815 obras. Foram 120 somente em 1951.
“Essa é uma hipótese, mas temos de pensar que havia algo que o constrangia. Ele poderia achar que as empresas produtoras das pastilhas simplificavam o trabalho, por exemplo”, diz Isabel Ruas, responsável pelo restauro, que descobriu o desenho inédito.
“Mas não há erros na execução: a empresa executora, a Vidrotil, trabalhou com o que existia na época e suas opções serão respeitadas no processo de restauro.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.