Críticos de atividades culturais são conhecidos por sua acidez e mordacidade. É raro o elogio aos bons trabalhos, afinal, quase sempre, o trabalho é subjetivo. Livros criticando uma obra, na maioria das vezes, são ininteligíveis ou demagógicos, ou ainda sem dizer nada com nada. É difícil descobrir o ponto de vista do analista. Numa década eles são a favor do subliminar. Na outra, contra isso e aquilo.
Muitas vezes seguem o exemplo dos filósofos – eu estou certo e todos vocês estão errados.
Cinema é a sétima arte que deixa o público mais confuso ainda. Por isso, a maioria das pessoas não lêem os críticos da arte. Na verdade, no fundo, eles escrevem apenas para os umbigos.
Diferente é Descríticas de Almir Feijó, que possui, como originalidade, fugir de todas as regras. O autor assistiu cerca de 2.500 filmes e teceu seus comentários, ora irônicos, ora mordazes, mas com a “desfaçatez de quem abandonou para sempre a inocência e a ingenuidade”, como disse Wilson Bueno, autor das orelhas e de um dos prefácios.
O próprio Almir avisa “crítica de verdade é aquela que dessacraliza a crítica e a própria arte”.
Outro escritor do prefácio, o publicitário Ernani Buchmann, conta: “Há diversos tipos de livros sobre cinema. Vão da exegese de determinada obra, gênero ou escola, às coletâneas de críticas, passando pelos dicionários que eliminam as dúvidas que tendem a turvar nossa memória sempre que precisamos saber… pois aqui, na obra do Almir, tempos um dos poucos exemplos da escrita mundial cinematográfica a reunir em um único volume todos os tipos”.
O livro conta com dezenas de verbetes, os próprios títulos dos filmes, e os comentários de Almir Feijó sobre cada um deles. Uns mais longos, outros menores, análises bem dosadas conforme a necessidade e a importância do filme. Por exemplo, destaco o Forrest Gump, onde ele diz: “Escapismo virtual. Um bom divertimento reacionário, de mensagem perigosa; se fosse sério seria fascista. Põe Tom Hanks a contracenar com Elvis, Kennedy e Lennon para transmitir a mensagem de que a América pode fazer a felicidade de todos que servirem ao país, ao capital e ao idealismo desde que tenham QI de ameba”.
Descríticas – autor Almir Feijó – Criar Edições – 554 páginas.