Foi uma libertação – depois de 30 anos trabalhando na televisão, meio pelo qual dirigiu os hoje já clássicos Hoje É Dia de Maria e Dois Irmãos, entre tantos outros, o diretor Luiz Fernando Carvalho prepara-se agora para um projeto arrojado: rodar dois filmes seguidamente. E o ponto de partida aconteceu oficialmente ontem, com a abertura do Galpão, no bairro da Vila Leopoldina, que vai abrigar o processo criativo dos longas. “É um lugar de identificação de talentos e de miscigenação dos atores, que vêm de todas as partes do País para um trabalho de corpo e voz”, conta Carvalho sobre um enorme espaço que antes abrigava uma fábrica.

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É lá onde já acontecem as leituras e os primeiros ensaios dos longas Objetos Perdidos, com roteiro original de Carvalho, e A Paixão Segundo GH, adaptação da obra de Clarice Lispector. As filmagens devem começar em março do próximo ano. No espaço, mantido pela Academia de Filmes, o diretor lê cuidadosamente o texto de Clarice com o grupo (“Não teremos roteiro, as cenas serão decididas a partir do livro”) e também o de Objetos Perdidos, que foi construído com a participação do escritor João Paulo Cuenca.

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Trata-se de um processo criativo que marca profundamente o ato criativo de Carvalho, processo que ele começou a desenvolver ao rodar seu primeiro longa, Lavoura Arcaica, em 2001. Naquela época, ele reuniu elenco e equipe técnica em uma fazenda que serviria de locação. Lá, durante semanas, estimulou uma rotina de imersão, permitindo que o elenco descobrisse o ambiente da história, trabalhando na terra, preparando as refeições. Com isso, conquistou uma rara verdade nas interpretações.

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Em seus trabalhos seguintes, Carvalho sempre manteve idêntico processo, até mesmo quando a Globo o convidou para criar esse espaço dentro do Projac. Foi ali que ele descobriu que o artesanato é mais importante que o produto industrial (entenda o motivo no texto ao lado). “Esse novo Galpão é um espaço de resistência, de reflexão, onde assumo a formação de atores.” E lá onde nascem os futuros filmes.

Para Carvalho, A Paixão Segundo GH se parece como uma versão feminina de Lavoura Arcaica. “Ambos apresentam um fluxo de consciência e, diante da câmera, é preciso que se produza um acontecimento”, diz ele, que vai rodar em um apartamento de São Paulo. Assim como Objetos Perdidos, A Paixão deve estrear em 2020 – e juntos. “São dois filmes diferentes na forma, mas que se entrecruzam”, conta Carvalho. “Em Objetos, há uma mulher que planeja filmar o romance de Clarice.”

Será um longa sobre o cinema e seu ofício baseado na imaginação. A ideia já conta com o apoio da Paris Filmes, produtora dos trabalhos, que já tem um belo elenco, como Maria Fernanda Cândido, a modelo Marcela Vivian Russo e o bailarino Ismael Ivo, que encantou o diretor. “Quando veio conhecer o Galpão, ele tomou posse de uma máscara confeccionada aqui e interagiu com os atores. Uma entrega maravilhosa.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.