Dois anos atrás, a atriz Denise Weinberg folheava distraidamente algumas obras em uma livraria quando o título O Testamento de Maria chamou sua atenção. Assinado pelo irlandês Colm Tóibín, o pequeno (88 páginas) volume editado pela Companhia das Letras traz um conteúdo poderoso: sob o ponto de vista da mãe de Jesus Cristo, a narrativa é uma imensa divagação, em que sobram críticas tanto para os apóstolos como até mesmo para o Nazareno. “Tóibín, na verdade, humaniza a figura de Maria, mostrando suas fraquezas terrenas”, conta Denise, que estreia nesta quinta, 7, no Sesc Pinheiros, o monólogo intitulado justamente O Testamento de Maria.

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Trata-se de uma versão teatral escrita pelo próprio Tóibín, que depois ele mesmo transformou no texto em prosa descoberto por Denise. “Mas a montagem da Broadway é incompleta, pois faltavam as páginas finais”, conta o diretor da montagem nacional, Ron Daniels. “Essa ausência, apesar de discreta, faz uma diferença.”

É curioso o caminho que acabou unindo Denise com Daniels – depois de descobrir e se empolgar com o livro, a atriz tentou convencer suas colegas a transformá-lo em uma montagem. “Não pensei em fazer, pois, no palco, preciso da troca com o outro ator. Tanto que contraceno até com um poste”, diverte-se a atriz. “Sugeri então para duas amigas, Clara Carvalho e Ana Lúcia Torre. Esta se interessou e foi atrás dos direitos autorais, mas desanimou ao descobrir que alguém já detinha.”

Era Ron Daniels, encenador brasileiro que assinou montagens importantes, como Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, em 1960, e Os Pequenos Burgueses (1963, de Gorki), no Oficina. Em Londres, construiu uma bem-sucedida carreira, dirigindo, durante 15 anos, a Royal Shakespeare Company, período em que encenou 39 montagens de peças do bardo, como ator ou diretor, na própria Inglaterra, nos Estados Unidos – onde vive atualmente – e até no Japão. É sua também a direção de Macbeth e Medida Sobre Medida, em cartaz no Sesc Vila Mariana.

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Daniels também se apaixonou pelo texto de Tóibín, mas sentia a necessidade de comandar uma grande atriz, pois a peça pede apenas uma cadeira em cena. Até descobrir o interesse de Denise. “Ele me ligou e, mesmo sem nunca ter participado de um monólogo, aceitei na hora”, conta ela, exuberante em cena no controle dos gestos e da voz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.