Em sua primeira passagem pelo Brasil, o diretor nova-iorquino Abel Ferrara, de 60 anos, não gostou muito de Brasília. Achou a capital federal “bizarra”, como conta Júlio Bezerra, curador da mostra retrospectiva dos filmes do cineasta no País. A estranheza foi causada por se deparar com a cidade vazia, no domingo passado, vindo do Rio, quando participou de debate com o público no Centro Cultural Banco do Brasil, e também pelo fato de Brasília ter sido criada “do nada” para abrigar o governo. Segundo lembra Bezerra, a opinião de Ferrara foi tomada como uma provocação por parte da plateia e esquentou o debate.
Isso é um aperitivo do que se pode esperar nesta quarta da conversa do cineasta com o público paulistano, na abertura na capital da mostra “Abel Ferrara e a Religião da Intensidade”, no CCBB-SP, às 13h. A mulher de Ferrara, a atriz Shanyn Leigh, que fez alguns de seus filmes, também participa do encontro.
O horário do debate não é o que organização do evento queria, mas o diretor terá de voltar às pressas para Nova York por causa da filmagem de seu novo trabalho, sobre o ex-diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, papel do francês Gérard Depardieu, que também tem no elenco Isabelle Adjani, e trata de sexo e poder.
O ciclo apresenta 21 longas-metragens, três curtas e dois episódios para a série “Miami Vice”, nos anos 80, dirigidos por Ferrara, que é conhecido por aqui por filmes como “O Rei de Nova York” (1990), “Vício Frenético” (1992), “Olhos de Serpente” (1993) – este com a participação da cantora Madonna – e “Os Chefões” (1996).
Bezerra comenta que, por abordar o violento submundo da máfia de Nova York, nos trabalhos iniciais, Ferrara foi apontado como um novo Martin Scorsese. Porém, “O Enigma do Poder” (1998), uma ficção científica inédita no Brasil e levada com um fiapo de trama, tirou o diretor da trilha das produções de gênero. “Depois, ele passou a fazer filmes mais diferentes, mais estranhos.” E essa guinada, diz Bezerra, desagradou a muitos fãs. “O Abel é um cineasta muito diferente. Os erros e acertos são dele e de mais ninguém”, comenta o curador.
Ele afirma também que seus trabalhos têm em comum a busca de seus personagens por redenção. Figuras como Christopher Walken, Willem Dafoe, Matthew Modine e Harvey Keitel são parceiros constantes nos trabalhos de Ferra. “O cinema dele é um cinema de ator”, define.
O nome da mostra – “Religião da Intensidade” -, aliás, faz referência à obsessão do cineasta por símbolos religiosos e por ele considerar o ritual de ir ao cinema semelhante ao de ir à igreja. As informações são do Jornal da Tarde.
Abel Ferrara e a Religião da Intensidade – CCBB-SP (R. Álvares Penteado, 112, centro). Tel. (011) 3113-3651. Até 6/5. De quarta a domingo. Ingressos: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia). Site: bb.com.br/cultura.