De volta às origens

Lá atrás, mais exatamente em 1991, Regina Casé comandava na Globo o primeiro episódio do Programa Legal no bairro de Thomaz Coelho, subúrbio do Rio de Janeiro, ao lado do ator Luiz Fernando Guimarães. O tema era Baile Funk e a irreverente dupla de atores/apresentadores se aventurou no bairro para revelar o cotidiano da população local. De lá para cá, a idéia de ?mostrar a cara? das comunidades pobres do Brasil ganhou novos elementos e dimensões. Em abril deste ano, surgiu o Central da Periferia. De início, o programa seria apenas um quadro especial do Fantástico, revista dominical da Globo, chamado Minha Periferia. Mas o bom retorno em audiência fez o número de especiais pular de quatro para oito episódios. ?Não planejamos isso. O programa foi acontecendo no susto, mas foi ótimo. Acho que o Central da Periferia chegou atrasado porque é importante para o país e para todos nós?, avalia Regina Casé.

Ao longo de 2006, o Central da Periferia mostrou diversos projetos encabeçados por cidadãos comuns, que contribuíram para a melhoria da qualidade de vida e da educação das populações carentes espalhadas pelo Brasil. Exibido mensalmente, o programa ?invadiu? favelas de Recife, São Paulo, Belém, Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Os shows, que mostraram músicas e culturas típicas de cada região em cada episódio, chegaram a reunir até 90 mil pessoas.

A resposta foi tamanha que, para o último programa do ano, Regina Casé gravou um especial na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro – marcado para ir ao ar no dia 23, depois do Caldeirão do Huck. ?Fiz questão de vir participar. Acho muito importante esses projetos sociais que a Regina mostrou no programa?, elogia o ator Reynaldo Gianecchini, uma das personalidades presentes. Além de uma retrospectiva, o especial prestou homenagem ao samba, com uma matéria especial no Morro da Previdência e com shows de Zeca Pagodinho, Leandro Sapucahy e Marcelo D2, entre outros. ?Gosto muito das manifestações populares. Sempre fui povão. Em cada cantinho do país existem iniciativas importantes?, observa a atriz Juliana Paes, que subiu no palco e requebrou muito ao som do grupo de funk Bonde dos Havaianos.

Para homenagear o samba, gênero musical mais popular do país, a produção preparou uma imensa estrutura metálica. O palco, de 16 metros de comprimento por 12,80 de profundidade, foi construído com latas de alumínio e outros materiais recicláveis – política adotada pelo cenógrafo Fernando Schimdt desde o primeiro episódio do Central da Periferia. Só para erguer a estrutura que contorna o palco foram utilizadas 80 mil latinhas. ?Aparentemente, é um negócio faraônico. Mas em uma produção industrial fica tudo mais fácil. Difícil foi montar o palco. Levamos cerca de 12 dias?, explica Fernando.

A produção buscou inspiração nos tradicionais botequins cariocas para a cenografia.

As laterais do palco foram decoradas com mesas de bar, onde mulatas, sambistas e convidados sentaram-se durante o especial. Além dos shows e da participação de celebridades, como a apresentadora Ana Maria Braga e o ator Pedro Cardoso, algumas pessoas – que estiveram nas matérias do Central da Periferia durante o ano – também foram homenageadas. E em meio a comemorações e sorrisos, o momento mais marcante falou exatamente de um tema que contrastou a festa. Subiram ao palco mães que tiveram seus filhos mortos por conta da guerra do tráfico. ?Aqui sou apenas um holofote. Quero iluminar uma coisa enorme e linda que já está acontecendo no Brasil. Neste programa não sou artista, sou ativista?, exagera Regina Casé.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo