Quando Tom Cavalcante decidiu sair da Globo, em 2003, sabia que o futuro era incerto. A Record ainda não era vista como um canal com programas de qualidade e ele era um dos primeiros nomes fortes a ir para a emissora. ?Foi um tiro no escuro. Achei que teria mais liberdade e espaço, além de ter uma boa proposta. Arrisquei mesmo?, admite Tom. Desde agosto, o programa Show do Tom é uma das atrações do domingo à tarde e entrou no meio de uma briga antiga, entre Domingão do Faustão, da Globo, e Domingo Legal, do SBT. Apesar de perder da Globo, o programa já consegue o segundo lugar na audiência dominical. ?O brasileiro que vê televisão aos domingos quer se divertir. Quer ver o futebol dele, ouvir uma boa piada. É por isso que vem dando certo?, explica Tom.
P – O Show do Tom entrou na grade dominical recentemente. Esta mudança foi uma evolução para o humorístico?
R – O programa evoluiu sempre. Quando entrei, em 2003, tive de implantar o humor na Record. Busquei um time de redatores, uma equipe inteira. Foi mais ou menos um ano de experiências. Aí a emissora começou a contratar novos atores, que faziam participações no programa. E pouco a pouco fomos crescendo. A evolução do Show do Tom anda de braços dados com o novo projeto da emissora. Subimos juntos de produção.
P – Como você virou humorista após trabalhar com jornalismo?
R – Comecei a carreira de forma inusitada. Fui redator de jornal e âncora de telejornal, no Ceará. E lá, como tinha uma boa empostação vocal, fui para o rádio, onde já fazia minhas piadas. Sempre soube que iria trabalhar com humor. Esta alegria vem da cultura cearense. Em 1983, vim para o Rio de Janeiro, a esmo, sem nenhuma referência. A minha primeira grande aparição na tevê foi com o personagem João Canabrava, que eu já tinha criado e figurou por anos na Escolinha do Professor Raimundo, da Globo.
P – Quais são suas referências no humor?
R – Quando era pequeno, assisti a muitos filmes e era grande fã de Grande Othelo e do Oscarito. Sempre foram grandes referências para mim. Mas é inegável o mérito do Chico Anysio. Ele me abriu as portas da tevê. Tenho meu legado, segui meu caminho no humor brasileiro, mas continuo tendo inspirações através do Chico. Até pela mesma origem nordestina que possuímos.
P – Quando um ator trabalha com programas de humor, normalmente ele é taxado como apenas humorista e desvalorizado como ator. Você sofre deste preconceito?
R – Os humoristas são vistos como uma subclasse no campo da atuação. Acho que a classe artística brasileira não dá o devido valor aos comediantes. Por exemplo, o Jim Carrey e o Billy Crystal são pessoas respeitadas demais no meio artístico internacional. Até nos comerciais isto fica explícito. As propagandas internacionais têm base na comédia. Mas os brasileiros pouco a pouco começam a entender isso.
P – O que motivou sua saída da Globo?
R – Me sentia sem liberdade na Globo. E por isso o meu programa solo não deu certo. O Megatom sucumbiu pois eu não tinha auto-suficiência. Meus textos passavam por uma comissão e várias coisas eram cortadas. E quando você não consegue exercer seu trabalho direito, está na hora de mudar de ares. E isso que me motivou a sair da emissora.