De pianista a maestro, João não deixa a música

?De certa forma consigo fazer o jogo de Poliana: foram-se as mãos e ficou a música.? É com essa frase que o maior intérprete de Johann Sebastian Bach (1685-1750), do mundo, resume sua nova fase na carreira. O Teatro Guaíra recebe hoje João Carlos Martins, que após uma trajetória de sucesso e dor ao piano retorna a Curitiba, desta vez como regente.

Martins teve uma carreira de pianista agitada. Começou a tocar piano aos oito anos e, desde então, sua meta foi passar para o teclado toda a obra de Bach. Mas os problemas começaram aos 25 anos, quando teve seu primeiro acidente jogando futebol; uma pedra havia entrado em seu braço. Depois desse acidente, sua vida foi marcada por retomadas e longos períodos afastados da carreira.

Aos 64 anos, mesmo após ter perdido o movimento dos dedos das mãos, Martins volta aos teatros. ?Montamos a sinfônica há um ano e quatro meses.? A estréia da Bachiana Chamber Orchestra foi em junho passado, em São Paulo, com a regência de Martins. ?Foi gratificante. Busco transmitir na regência a mesma emoção que transmitia no piano. Os músicos da orquestra são sensacionais, trabalhamos de forma democrática, humana e pessoal?, conta Martins. A orquestra foi formada por músicos selecionados entre as principais orquestras do Brasil. O termo ?bachiana? é uma homenagem a Bach e Villa-Lobos.

A orquestra faz parte de um projeto de gravações, Bach Global, iniciado ano passado, ocasião em que Martins regeu a English Chamber Orchestra, em Londres. ?A composição de Bach significa tudo que veio na música erudita. No decorrer da história houve grandes compositores como Beethoven, Schubert e outros, que foram como igrejas da música clássica. Para mim Bach foi a catedral?, salienta Martins.

Além da regência, Martins tem um cargo de diretor na Faculdade de Música FMU, em São Paulo. Martins a considera um trabalho social importante para desenvolver a música entre os jovens. ?Natal passado recebi uma cartinha de alunos da Febem agradecendo pela música. Essa é uma das maiores demonstrações de carinho que alguém pode ganhar?, revela Martins. ?Com todos os problemas que tive descobri que a determinação é fundamental para se continuar com a vida. A gente não pode desanimar nunca.?

Curitiba deu sorte

?Em Curitiba toquei quatro vezes nos anos 60s. Sempre tive muita sorte em Curitiba. Depois toquei com Arthur Moreira Lima, algumas vezes, mas já em outra fase. João Carlos Martins teve seu primeiro acidente aos 25 anos: jogando futebol, entrou uma pedra em seu braço. Com esforços conseguiu levar a carreira até os trinta anos; então, teve que parar por sete anos e a partir daí parar e voltar ao piano foi sua sina. Já em 1995, Martins foi vítima de um assalto na Bulgária, os assaltantes golpearam-lhe a cabeça, ocasionando um hematoma cerebral e uma conseqüente paralisia cerebral, provocando a perda de movimentos dos dedos.

Quando se diz que João Carlos transcreveu para o teclado toda obra de Johann Sebastian Bach, trata-se nada menos que as 400 composições deixadas pelo alemão. Foram todas gravadas em 21 CDs, chamando-se Integral de Bach, trabalho iniciado em 1979.

Reconhecimento no Brasil

?Desde José Maurício Nunes Garcia, no século XVIII, o músico clássico tem que ser um desbravador, tem que ser um diferencial de alfa para ômega. O que precisa ser feito é uma política governamental para se formar um público jovem?, comenta Martins. Segundo o regente, nos anos 40s e 50s existia um público imigrante, depois houve renovação. ?Também houve um intervalo sem músicos, e depois uma geração com Nélson Freire, Arthur Moreira Lima e eu mesmo, deixando a modéstia. Houve um hiato nas gerações de artistas e público?, opina. ?O músico erudito tem que mostrar seu trabalho para o público para que haja o interesse do mesmo por sua música. Beethoven foi quem começou a vender e fazer bilheteria. O que o governo precisa fazer é dar a infra-estrutura para que esses músicos possam ter o reconhecimento?, completa Martins.

Serviço: João Carlos Martins e Bachiana Chamber Orchestra, hoje, às 21h, no Teatro Guaíra. Ingressos a R$ 60 platéia; R$ 50 primeiro balcão; R$ 30 segundo balcão. A renda da apresentação é em benefício à Pró-Renal.

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