“Tem muita coisa acontecendo por aí, não é?” Logo na primeira pergunta, Martín Perna, saxofonista barítono e criador da big band Antibalas, já escancara o conhecimento de algumas das mazelas pelas quais o Brasil passa nos últimos dias. “Sei de todos os problemas com os Jogos Olímpicos, a instabilidade política, o medo da zika. Aqui nos Estados Unidos, as informações tendem a ser mais amplificadas, mas sei que mesmo com tudo isso, ainda há pessoas que querem harmonia. É por isso que estamos indo aí.”

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É com a promessa de colocar o público para remexer ao som sacolejante do afrobeat que o Antibalas aceitou a missão de voltar a descer os trópicos depois de quatro anos e se apresentar em São Paulo. O show ocorrerá no Sesc Pompeia, nesta quinta-feira, 14, a partir das 21h30. O grupo também toca em Brasília, no Instrumenta Brasília, no domingo, 17.

E é uma missão, mesmo. Pelo menos quando se trata do Antibalas, um grupo que pode ter até 20 integrantes dividindo o mesmo palco, entre guitarristas, percussionistas, baixistas e a turma dos sopros capitaneada por Perna. Ao Brasil, eles virão com 12 integrantes, uma formação chamada pelo músico como “a escalação oficial”. “É quase como um time de futebol. Esses são os jogadores necessários para que a gente consiga disputar uma partida. Em turnês para países mais distantes, vamos com esse número mínimo de integrantes”, informa.

O grande contingente de músicos que integram o grupo resulta em mais gastos com hospedagem, alimentação e transporte. Há quatro anos, por exemplo, durante uma turnê pela Austrália, o cancelamento de um festival no qual a banda se apresentaria custou à trupe uma dívida de US$ 50 mil. “Só conseguimos terminar de pagar esse valor recentemente, para você ter uma ideia”, conta Perna. “Somos uma banda independente. Então, as turnês podem ser sempre arriscadas.”

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Foi a dívida contraída nas terras de Crocodilo Dundee que atrasou os planos da gravação de um novo disco do grupo. O trabalho está em fase de finalização e deve sair até o fim de 2016. “Em janeiro, no máximo”, brinca o saxofonista. A banda nascida em 1998, um ano depois da morte do criador e disseminador do afrobeat Fela Kuti, tem quatro álbuns na discografia, espalhados por uma carreira de quase 20 anos. A frequência não é das maiores – por dificuldades financeiras, inclusive -, mas os quatro trabalhos compõem esse encontro da música de origem africana com as guitarras, o jazz e ritmos latinos, esse último uma adição sonora proposta pelo Antibalas.

“Preciso dizer que o Brasil é o país que mais nos entendeu. O lugar no qual nosso som se conectou com as pessoas”, explica o músico que aprendeu português na universidade e até se arrisca na língua ao fim da entrevista. “Vocês têm o ritmo no centro da música de vocês, mesmo que esteja diluído em outros gêneros. Da banda Black Rio a Jorge Ben Jor.” O ritmo, sugere Perna, é a receita para que se esqueça os problemas, quaisquer que eles sejam, pelo menos por duas horas. “Quem, afinal, gosta do caos?” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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