Maria Fernanda Cândido não perde o ar ?blasé? nem quando tenta mostrar alguma empolgação. Como, por exemplo, ao falar sobre a advogada Fabiana, executiva bem-sucedida que interpreta em Paraíso tropical. Na verdade, a impressão é que a atriz ainda está tateando sua primeira personagem contemporânea e urbana na tevê. Com uma voz mansa e arrastada e um longínquo sotaque do Sul, a atriz paranaense mantém a mesma expressão impávida para falar sobre qualquer assunto: desde o filho Tomás, de pouco mais de um ano, até a composição da classuda amante do poderoso Antenor Cavalcanti, personagem de Tony Ramos na trama da Globo. ?Este convite do Gilberto Braga foi irrecusável! Sou uma mulher contemporânea, acostumada com a cidade grande e até hoje não havia interpretado um tipo assim?, argumenta a atriz, cujo último papel na tevê foi a brejeira Lavínia, em Como uma onda, há dois anos.
Além de usar pela primeira vez um figurino sofisticado, bem distante das pesadas roupas de época que desfilava em tramas como Esperança, em 2002, ou Terra nostra, esta também é a estréia de Maria Fernanda numa novela de Gilberto Braga. ?Ele é o autor com quem sempre sonhei trabalhar?, diz.
A mesma presença altiva da atriz foi aproveitada na composição da advogada. Assim que soube que interpretaria uma amante, que há anos vivia confortavelmente como ?a outra?, Maria Fernanda resolveu entrevistar diversas advogadas. Freqüentou o Fórum da capital paulista e, ao conversar com mulheres que comandavam a parte jurídica de empresas, levou um susto. ?Quando falei sobre a Fabiana, escutei algumas vezes: ?Essa personagem sou eu! Perdi 15 anos da minha vida com um homem assim!??, diverte-se a atriz de 32 anos. ?Achei que tudo isso vinha da cabeça do Gilberto. Mas essas mulheres existem! Mesmo com ótimo nível cultural e social elas se deixam enganar. Cultura e inteligência não comandam o coração?, filosofa, apertando os rasgados olhos verdes.
Ainda empolgada por começar a finalmente destrinchar o perfil da personagem, a atriz arrisca mais alto: compara a advogada à deusa grega Palas Atena, que já nasceu adulta e simboliza a sabedoria, a inteligência e a guerra justa. Diferentemente da Fabiana, Atena morreu virgem, pois pediu aos deuses nunca se apaixonar para não abandonar sua vida na justiça para ser mãe e mulher. ?Nisso elas realmente são bem diferentes!?, destaca a atriz, numa contida risada.
O mesmo bom humor de Maria Fernanda se reflete sempre que a atriz analisa sua carreira. Depois de estrear como atriz na Band, como a Magali de Serras azuis em 1998, ela logo obteve destaque como a sedutora ?bella dona? Paola de Terra nostra, em 1999. Assim que estreou na Globo, Maria Fernanda logo foi comparada à atriz italiana Sophia Loren, o que rendeu um contrato de longo prazo com a emissora. Em seguida, mais uma trama de época: a minissérie Aquarela do Brasil, na qual viveu a determinada Isa Galvão. E depois Esperança, onde a atriz viveu a batalhadora tecelã Nina. ?Já imaginava que fosse fazer papéis de época por toda a minha vida. Quando pensei que fosse para uma novela contemporânea, ainda me chamaram para fazer Um só coração?, lembra, se referindo à minissérie de Maria Adelaide Amaral, onde interpretou a generosa governanta Ana Schmidt. ?Cada uma dessas personagens me fez ter uma dimensão maior das fraquezas do ser humano. A cada dia, aprendo com meus papéis a lidar com as pessoas?, filosofa, arrumando os cabelos e esticando o belo vestido retrô.
Maria Fernanda Cândido nasceu em Londrina, mas mudou-se para Curitiba aos quatro anos de idade, onde viveu com sua família até completar 12 anos. Depois, mudou-se com a família para São Paulo. A atriz chegou a morar em Nova York e Paris quando trabalhava como modelo, dos 14 aos 19 anos de idade.
Forma de musa
Paraíso tropical tem um duplo sabor de estréia para Maria Fernanda Cândido. Não apenas por ser sua primeira novela urbana e contemporânea, mas é seu primeiro trabalho na tevê após ter tido Tomás, seu filho de pouco mais de um ano, com o empresário Petrit Spahija. A principal preocupação da atriz nesse início de gravações é conciliar a agitada rotina na novela de Gilberto Braga – onde grava de segunda a quinta – com sua atuação na peça Pequenos crimes conjugais, que está em cartaz em São Paulo nos finais de semana. ?Minha vida está na ponte aérea com bebê, babá e as tralhas?, desabafa a atriz, que já perdeu 15 dos 12 kg que adquiriu durante a gravidez.
Maria Fernanda jura que não fez nenhum tipo de malhação para voltar à antiga forma. ?Faço personal baby?, brinca. Para manter seus 1,76 m de altura e 60 kg, a atriz permanece com uma alimentação balanceada, com frutas, vegetais e legumes, acompanhados de poucos carboidratos e carnes magras. Seu maior drama, no entanto, é lidar com as diferenças em seu corpo após a maternidade. ?Meu peito ficou murcho quando parei de amamentar. Depois foi voltando ao normal. Mas continuo sequinha!?, avalia.