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Darcy Ribeiro e os problemas do País inspiram musical

Um produtor e uma cineasta iniciam a seleção de elenco para um filme baseado na clássica obra O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro. Quando começam a rodar, são informados pelos financiadores de que a verba foi reduzida em 50%. Dias depois, o corte continuou e, do total inicial, restaram 20%. Finalmente, a produção é interrompida devido à falta de investimento. Os artistas, presos à sua fidelidade à arte, continuam o trabalho, mesmo a um custo zero.

“A cultura desponta como uma forma de aliviar a dor no mundo”, acredita Ulysses Cruz, que assina a direção de Rio Mais Brasil, o Nosso Musical, que estreia nesta quinta-feira, 20, no teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro. Trata-se de seu trabalho mais original e desafiador em relação ao processo criativo. “A gente se baseou nos problemas reais para criar nossa ficção”, completa o produtor Gustavo Nunes, cujo problema em um espetáculo foi o ponto de partida para Rio Mais Brasil.

Tudo começou em 2016, quando Nunes preparava a montagem de um musical que homenagearia o Rio de Janeiro. O cancelamento de um patrocínio quando o elenco já estava selecionado e os ensaios prestes a começar, no entanto, obrigou o produtor a desistir daquele projeto. Mas não da ideia – além de Cruz, ele contou com a persistência de outros artistas, como o diretor musical Carlos Bauzys e a atriz Cris Vianna, para formatar o espetáculo. “Quando me lembrei do Povo Brasileiro, do Darcy Ribeiro, livro que nos conduz pelos caminhos da nossa formação como nação, sugeri que a história não mais se resumisse ao Rio, mas ao País inteiro”, conta Cruz.

Assim, o grupo aumentou com a chegada da dramaturga Renata Mizrahi, que ajudou a alinhavar o ponto de partida do novo musical: a história se passa nos bastidores da realização de um longa-metragem. O produtor Martin (Claudio Lins) recebe uma verba para criar uma superprodução, mostrando um Brasil jamais visto antes no cinema. Após muito procurar, ele vê suas ideias traduzidas pela cineasta Cris (Cris Vianna), que propõe mostrar a essência do povo brasileiro. E a escolha do elenco deve refletir essa proposta, com pessoas de todo o País, que mostrarão um pouco de suas vivências, ajudando a entender o Brasil através da sua gente. À medida que as filmagens avançam, os valores vão sendo reduzidos, até que o investimento na produção é completamente cancelado.

“Martin simboliza a luta de produtores como Gustavo”, comenta Ulysses Cruz. De fato, quando surgiu finalmente um investidor, o musical começou a tomar corpo. E, com a obra de Darcy Ribeiro como uma espécie de manual, o espetáculo se engrandeceu, incorporando experiências, especialmente dos atores, selecionados entre todas as regiões brasileiras. Assim, o elenco é formado por representantes do Pará e do Amazonas, assim como Goiás, Minas, São Paulo. “Queremos mostrar um lugar mais real, de pessoas potentes, não os mesmos cartões-postais, nem as mesmas frases feitas”, afirma Renata Mizrahi.

A miscigenação de relatos influenciou diretamente a partitura do musical – Carlos Bauzys aproveitou sua sólida experiência como regente e, partindo de uma decisão de Cruz (“Quero um musical hip-hop, não MPB”), ele fundiu ritmos das regiões tratadas na história, além de criar letras especialmente para o espetáculo. Com isso, o espectador é surpreendido com verdadeiras pérolas, como o clássico Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, que ganhou a inserção de um rap, também escrito por Bauzys. “É no trecho em que se canta Terra de Nosso senhor – nesse momento, entra o rap que diz, entre outras coisas, Terra de Nosso Senhor, de Oxalá, de Iemanjá, de Jesus. Exaltamos o sincretismo no Brasil”, comenta.

Graças ao patrocínio, Rio Mais Brasil poderá circular e, em novembro, deve chegar a São Paulo, no Teatro do Shopping Frei Caneca.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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