Daniel Craig, o homem com a tatuagem de 007

Embora já tivesse um respeitável currículo como coadjuvante, Daniel Craig virou astro como 007, bancado pela produtora Barbara Broccoli, que contra tudo e todos – até o estúdio -, decidiu acertadamente que ele seria o novo James Bond. Craig encontrou-se com o repórter em Londres, não para falar da próxima aventura de 007 – que roda em 2012 -, mas de” Millennium – Os Homens Que não Amavam as Mulheres”. O longa que David Fincher adaptou dos livros de Stieg Larsson – presumivelmente, o primeiro de uma série – estreia em 27 de janeiro.

Você tem prática de criar personagens conhecidos do público. Como faz para não frustrar a expectativa das pessoas?

CRAIG – É impossível tentar satisfazer a todo mundo. Veja o caso de James Bond. Quantos atores o interpretaram no cinema? O público nem tem mais a referência do personagem de Ian Fleming. O jornalista da trilogia Millennium é conhecido de 65 milhões de leitores ao redor do mundo, mais os que viram os filmes suecos inspirados nos livros de Stieg Larsson. É preciso ignorar tudo isso e buscar outras formas de apoio. No meu caso, foi o extraordinário roteiro de Steve Zaillan. É um mago das palavras. Quando soube que David Fincher seria o diretor e estava interessado em mim, completou-se o quadro. David é um dos maiores diretores da atualidade. Seu domínio da imagem é absoluto. E, como ele veio do videoclipe, usa a música, o som para criar a cena, não só para ornamentá-la.

O que Mikael Bomkvist (o jornalista) e 007 têm em comum?

CRAIG – São homens, não? Mas até nisso diferem, pela maneira de se colocar diante da mulher. Mikael, embora seja um jornalista de prestígio e um cruzado na busca da verdade, é um homem comum. Enfrenta situações de perigo, mas digamos que o outro cara (007) reagiria de forma diferente. As reações de James (Bond) são na maioria das vezes físicas, instintivas, por mais racional que ele seja. Mikael é mais prudente, tem medo. E, a partir de certo momento, ele se envolve com Lisbeth e fica preocupado com a segurança dela.

O filme é uma raridade em termos de produção classe A de Hollywood. Tem uma protagonista feminina tatuada e cheia de piercings e que, ainda por cima, é bissexual. É uma revolução, não?

CRAIG – Imagino que o espectador, principalmente aquele conservador, toma um choque quando vê Rooney Mara (a atriz que faz Lisbeth) pela primeira vez, mas quero crer que esse estranhamento logo desaparece. Millennium – Os Homens Que não Amavam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo, no original) é um thriller e, como tal, tem cenas tensas e movimentadas. Mas, desde nosso primeiro encontro, David (Fincher) deixou claro que não queria fazer mais um filme de serial killer. Em sua obra, ele investigou bastante as mentes de criminosos. Isso faz parte do contexto, mas o filme é mais sobre o relacionamento entre Mikael e Lisbeth. E é uma ligação muito particular, não apenas por causa da natureza ambivalente da garota. Existem as diferenças de idade, porque Mikael é bem mais velho, de origem social, comportamental. Mikael e Lisbeth são personagens que, em princípio, talvez nem se cruzassem, mas se encontram e estabelecem essa relação.

E que relação é essa?

CRAIG – Embora seja investigadora, ela é antissocial. Seu problema é a quebra de confiança nos homens, que vai restabelecer com Mikael. Meu personagem sofre um revés logo no começo, pois o alvo de suas denúncias consegue se safar. Ele também precisa se reconstruir. Ao mesmo tempo que cria personagens sólidos, o filme trata de questões importantes. A ética, a confiança, a verdade.

Além de “Millennium”, você está em “As Aventuras de Tintin” e já havia trabalhado com Steven Spielberg, em “Munique”. Como foi o reencontro?

CRAIG – Steven não é só um grande diretor, é um estrategista, um planejador. Trabalhei apenas duas semanas em Tintin, e com motion capture, o que significa que o tempo todo estava coberto de sensores (para captação da imagem). Com David, o trabalho se estendeu por quase um ano e ainda tivemos de enfrentar o rigor do inverno sueco, por conta das cenas em Estocolmo. Começamos pelo fim, filmamos as externas na Suécia e fomos para o estúdio, em Los Angeles. David adora contar a seguinte história – um dia, o técnico de som interrompeu a filmagem por causa de um ruído estranho. Eram meus dentes batendo. De frio!

David Fincher é famoso por repetir um plano até 20 vezes. Não cansa?

CRAIG – Sou ator, se o diretor quiser que repita 40 vezes, terei de fazê-lo. Existem cenas de James Bond que tive de refazer tantas vezes que perdi a conta. Não é um problema, realmente. Representar é uma coisa curiosa. Se você me perguntar como faço, não vou saber responder, mas é uma questão de busca da verdade – da cena e do personagem.

E as cenas de sexo? Rooney Mara fica nua boa parte do filme.

CRAIG – Mas ela tem idade para ser minha filha! E as cenas de sexo terminam sendo todas iguais. Com toda aquela gente olhando, é só coreografia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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