Para falar daquilo que nos é mais caro, as palavras costumam faltar. Mas há sempre um consolo nas palavras de outrem, outras vozes que podemos convocar para que digam por nós. Em “Estamira – Beira do Mundo”, espetáculo apresentado nesta quarta no Festival de Curitiba, a atriz Dani Barros toma o lugar de uma catadora de lixo para dar vazão a inquietações bastante particulares. “Eu encontrei ali o que eu queria dizer”, diz ela, que mereceu pelo papel o Prêmio Shell de melhor atriz no Rio de Janeiro.

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A peça toma emprestado o título do filme que lhe deu origem. No documentário “Estamira”, o diretor Marcos Prado acompanha o cotidiano de uma mulher com distúrbios mentais que trabalha em um imenso aterro sanitário. Dona de um discurso messiânico, ela se coloca como portadora de uma verdade a ser revelada. Em seus acessos, condena a hipocrisia, renega Deus e a religião, brada contra uma sociedade de controle, que impõe remédios e restrições para calar seus loucos, seus seres dissonantes.

Dirigida por Beatriz Sayad, a intérprete articula o discurso que toma emprestado de Estamira com elementos da própria biografia. Expõe, em intervenções delicadas, aspectos de sua relação com a mãe, vítima de depressão que passou por uma infinidade de tratamentos e internações. “A loucura é um assunto com o qual ainda não sabemos lidar. E eu vi aí a possibilidade de juntar as duas coisas: a maneira como esse passado com a minha mãe me impactou e o meu encantamento pela Estamira”, pontua Dani.

Ao compor a dramaturgia, a atriz partiu principalmente do documentário. Estudou com afinco as inflexões e as palavras da personagem-título. Mas não só. “O filme já estava feito. Não faria sentido nenhum reproduzi-lo”, considera. Com o intuito de extrapolar aquilo que já havia sido gravado, visitou e conversou com Estamira em diversas ocasiões, uma aproximação que se estendeu até a sua morte, no ano passado. Também trouxe para a encenação fragmentos de outros textos. A beleza incomensurável da simplicidade que habita a poesia de Manoel de Barros. O grito de dor que atravessa os escritos de Ana Cristina César.

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Turnê – Após a passagem pelo festival de Curitiba, o espetáculo “Estamira – Beira do Mundo” retorna ao Rio para nova temporada no Teatro Leblon. A peça iniciou carreira em novembro no Teatro Laura Alvim. A estreia em São Paulo já tem data marcada: a previsão é que o solo chegue ao Sesc Pompeia no dia 29 de junho e fique em cartaz durante um mês. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.