Sentado no palco do Teatro Eva Herz, Dan Stulbach admira as poltronas por ora vazias com o indisfarçável prazer do dever cumprido. Atrás dele, uma mesa, cadeira, tapete, objetos que compõem o cenário da peça “Dos Escombros de Pagu”, com a atriz Renata Zhaneta e direção de Roberto Lage, que estreia hoje. Trata-se de uma delicada homenagem a Patrícia Galvão, escritora e crítica cujo centenário de nascimento é celebrado este ano. Um espetáculo alternativo que dificilmente ocuparia um espaço apenas interessado no retorno de bilheteria. “Aqui é diferente, pois gostamos de experimentações”, comenta Dan.
Embora reconhecido como ator, ele ainda não atuou no Eva Herz – lá, sua função é a de diretor artístico, ou seja, responsável por elaborar a programação. Na semana que vem, Dan completa três anos no cargo, exatamente no dia 15 quando o teatro completa a mesma idade. Nesse período, ele apostou na diversidade cultural, transformando o Eva Herz no espaço ideal para música, teatro e debates.
“Sempre me guiei por uma fala de meu personagem em Peer Gynt, de Ibsen, peça com que estreei profissionalmente em agosto de 1990: ‘Seja fiel a si mesmo'”. Para entender a força dessa espécie de mantra, é preciso voltar no tempo – no início dos anos 2000, Dan passou uma temporada em Londres, onde, além de fazer cursos, descobriu espaços que o fascinaram. “Eram teatros pequenos, mas com uma programação admirável”, lembra. “Imediatamente, pensei em trazer a ideia para São Paulo.”
O retorno à cidade, no entanto, foi como uma ducha de água fria: o preço elevado da manutenção fez com que ator quase desistisse do projeto. Quase porque teve um encontro revelador com Pedro Herz, diretor-geral da Livraria Cultura que, na época, acompanhava a transformação do espaço antes ocupado pelo Cine Astor, no Conjunto Nacional, em sua principal unidade. O projeto previa a construção de um auditório, mas, da conversa com o ator, surgiu a boa ideia de se montar um teatro.
“Convidamos o (cenógrafo) J.C. Serroni para ajudar na concepção do espaço, ao mesmo tempo em que desenvolvemos uma programação qualificada”, conta Dan, auxiliado por André Accioli. Assim, surgiram apostas certeiras como “A Alma Imoral”, com Clarice Niskier, “Doido”, com Elias Andreato, e “As Meninas”, inspirada na obra de Lygia Fagundes Telles. Em três anos, cerca de 100 mil pessoas ocuparam os lugares daquele que, inicialmente, iria se chamar Teatro Cultura. “Ficou Eva Herz pois foi a realização de um sonho meu e de minha mãe – por isso a homenageamos batizando a casa com o seu nome”, conta Pedro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Destaques da Programação
Hoje – Estreia a peça “Dos Escombros de Pagu”, às 21 horas.
Segunda-feira – Leitura dramática de “Ciranda”, de Célia Regina Forte, com Daniela Galli e Tânia Bondezan, direção de José Possi Neto, às 19 horas.
Terça-feira – Show com Tito Martino Jazz Band, às 12h30.
Quinta-feira, dia 16 – Debate sobre o espetáculo “O Estrangeiro”, com o ator Guilherme Leme e os jornalistas Caio Liudvik e Manuel da Costa Pinto, às 19 horas.
Sexta-feira, dia 17 – Estreia a peça “O Estrangeiro”, inspirada na obra do escritor argelino Albert Camus, com o ator Guilherme Leme e a direção de Vera Holtz, às 21 horas.