Dolores, Dalva e Elizeth. As biografias as citam como “mulheres à frente do tempo”, as cantoras as tratam com reverência e a história as coloca em palcos elevados. Dolores Duran, morta aos 29 anos, um talento para compor que as outras não tinham e um entendimento de interpretação próximo ao das cantoras de jazz. Dalva, o “rouxinol brasileiro”, a voz mais elástica, dramática aos extremos, eleita a “Rainha do Rádio”. Elizeth Cardoso, a “Divina”, precisa, sofisticada e com um suingue que não se ouvia na Rádio Nacional. “Dalva tinha um pé na opereta; Elizeth, na gafieira; e Dolores, na boate. Eram os seus hábitats”, diz o pesquisador Ruy Castro.

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Desde suas partidas – Dolores em 1930, Dalva em 1972 e Elizeth em 1990 -, a linha de produção de vozes femininas não parou. As orquestras saíram, chegaram violões e os discos comprimidos de 78 rotações se tornaram áudios comprimidos de streamings, deixando pelo meio dos anos 1960 e 1990 um tempo em que a música saía de um sulco negro, entrava por uma agulha e transportava os músicos para as salas de casa. Quando uma cantora de 2019 se coloca diante de uma dessas vozes para homenageá-las cantando suas canções tantos anos depois, o que se faz também é um desafio a tudo o que o tempo tem destruído.

O espetáculo de três noites será de sexta a domingo, no Sesc 24 de Maio. Dia 30 de agosto, sexta, Patricia Bastos e Lívia Nestrovski se dividem nas músicas cantadas por Dolores. A Noite do Meu Bem, Noite de Paz, Fim de Caso e parte do repertório em inglês que ela encarava tão à vontade, como Cry me a River.

Sábado, 31, será Virgínia Rosa lembrando Elizeth, com quem já tem intimidade artística legitimada em seu trabalho. Barracão de Zinco, Naquela Mesa, Chega de Saudade (lembrando do disco de 1958 que lançou João Gilberto) e Eu Não Existo Sem Você. O gap geracional é ainda maior na última noite. Roberta Campos canta Dalva de Oliveira, com As Pastorinhas, Bandeira Branca e Ave Maria do Morro.

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O Sesc investiu no projeto idealizado pela produtora Debora Venturini e colocou uma orquestra de 12 músicos arranjada pelo diretor Rodrigo Morte, uma atitude que aproxima as interpretações de um espírito de rádio. “Os arranjadores, responsáveis por escrever para esses grupos instrumentais, foram fundamentais para a criação de uma sonoridade típica do período”, fala. Livia diz, sobre Dolores: “Tenho curiosidade em saber o que ela teria sido dez anos depois, já com a bossa nova.
Para mim, não é uma dificuldade, mas uma alegria em estar mais uma vez, representando essa cantora tão importante”. Roberta fala de Dalva: “A ideia é homenagear essas cantoras incríveis, então passo a ser somente uma intérprete, deixando um pouco a compositora e instrumentista de lado”. E Virgínia pensa assim: “Eu serei Virgínia Rosa cantando, interpretando com todo o carinho e respeito a obra da Divina Elizeth do meu jeito, com as minhas características”.

ELAS CANTAM NO RÁDIO
Sesc 24 de Maio. R. 24 de Maio, 109; tel. 3350-6256. 6ª (30),
sáb. (31), 20h e dom. (1º/9),
18h. R$ 40

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.