Ele também gosta de se esconder sob um boné e de fugir de qualquer tipo de publicidade. Outra coincidência é que completa 80 anos neste ano (dia 14 de junho) e, ao lado de Rubem Fonseca, forma a dupla de maiores contistas vivos do Brasil. Dalton Trevisan sempre desejou ser um homem invisível em suas caminhadas por Curitiba (PR), passeios com que se abastece de informações para seus livros. É o que comprova, por exemplo, o mais recente, "Rita Ritinha Ritona", lançado agora pela Record, em que narra com humor ferino as fatalidades e excentricidades das relações humanas.
Sua consagração literária veio aos 34 anos, quando publicou "Novelas nada Exemplares". Já revelava o estilo que o tornaria famoso, seco, em linguagem pouco literária e profundamente substantiva. Logo, tomou gosto também pelas expressões populares, muitas vezes chulas. Entre suas obras mais conhecidas estão "Cemitério de Elefantes", de 1964, "O Vampiro de Curitiba", do ano passado, e um único romance, "A Polaquinha" de 1985.
A progressão da carreira coincidiu com o lento encurtamento dos contos até que, em 1994, Trevisan lançou "Ah é?" que, na verdade, não era um conjunto de curtos relatos mas, como dizia o próprio autor, uma série de haicais. Tal estratégia minimalista conduzia sua narrativa para uma síntese suprema cujo ponto final seria o desaparecimento. Curiosamente, o escritor puxou o freio, como pode se observar em "Rita Ritinha Ritona".
Assim como Fonseca, Dalton Trevisan cultiva raras amizades e a todas impõe uma condição inquebrantável: se trair sua confiança e revelar algo para a imprensa, o amigo pode se considerar um estranho. Uma das possíveis explicações para esse comportamento arredio, que o acompanha desde os 20 anos de idade seria sua preferência pela arte do mínimo, desprezando assim exageros, retóricas e elogios.
Trevisan e Rubem Fonseca destacam-se como ilustres representantes de um clube de escritores que não abrem mão do anonimato. Entre eles, estão os americanos Thomas Pynchon, autor de quem só se conhece uma foto de quando tinha 14 anos, e J. D. Salinger que, depois do sucesso mundial de "Apanhador no Campo de Centeio", refugiou-se em uma pequena cidade, limitando contato até mesmo com seu editor.