Da graça de ser ranzinza

Aos 68 anos, o ator Francisco Milani ainda demonstra disposição para o “batente”. Além de interpretar o tio Juvenal em A Grande Família, ele está filmando dois longas, O Coronel e o Lobisomem, de Maurício Farias, e O Mistério de Irma Vap, de Carla Camurati e deve fazer uma narração para o filme de Eliana em O Segredo dos Golfinhos, que estréia em janeiro.

Mas, quando o assunto é novela, um trabalho mais longo e desgastante, Milani prefere não abusar. Ele foi convidado para fazer América, que vai substituir Senhora do Destino mas, como o personagem grava muitas “externas” e as gravações vão se estender por todo o tórrido verão carioca, o ator ainda está avaliando a proposta. “Não sei se vou ter saúde para isso”, pondera o ator que, se aceitar o convite, vai viver um policial militar aposentado, que tenta impor a disciplina em um quartel e só se comunica com jargão policial.

Enquanto pensa no assunto, Milani está se divertindo com as confusões do tio Juvenal, mais conhecido como o Tio Mala. Mas agora o personagem está deixando as tradicionais rabugices de lado e se mostrando mais solícito e afável. Tudo por causa de uma paixão por dona Etelvina, mãe de Beiçola, vivido por Marcos Oliveira que, na verdade, é o próprio disfarçado. Mas, segundo o ator, essa simpatia não vai durar muito. “A família vai falar que a Etelvina não quer nada com ele”, adianta Milani que, se for para América, fica no seriado só até outubro, quando começam as gravações da novela.

P

– O que você acha de fazer humor com um tipo que está sempre de mal com a vida?

R

– Eu já tenho experiência com personagens mal-humorados por causa do Pedro Pedreira, da Escolinha, e do Saraiva, do Zorra Total, que era um poço de ódio. Particularmente, acho o mau humor muito engraçado. Quando você vê uma pessoa mal-humorada na rua, acaba rindo, pois ela tem um comportamento fora do normal, que chama a atenção e é muito divertido. Fazer um papel desses é um filão para qualquer ator.

P

– Como está sendo participar de A Grande Família?

R

– Eu já tinha uma certa intimidade com A Grande Família porque fui muito amigo do Vianinha na juventude. Quando ele começou a escrever, insistiu muito para que eu atuasse no programa, mas, na época, por uma série de razões, eu não queria fazer tevê. Agora, quando recebi o convite, fiquei perplexo. Apesar de não acreditar em bruxas, acabei achando que havia uma interferência do Vianinha do além para que eu fizesse o seriado. É maravilhoso estar em um programa tão sintonizado com os hábitos culturais dos brasileiros.

P

– Apesar dessa familiaridade com o programa, como foi integrar um grupo de atores que já grava junto há quase quatro anos?

R

– No início, estranhei, me senti um pouco intruso, porque aquele é o universo deles e eles já se entendem pelo olhar. Mas todos são colegas formidáveis e me receberam de braços abertos, o que tornou minha participação mais natural e me fez sentir à vontade. O ambiente de trabalho em A Grande Família é muito divertido. Os acessos de risos são constantes. Durante um deles, a Marieta parou a cena, olhou para cima e disse: “Rogério Cardoso, pelo amor de Deus, deixa a gente gravar!”.

P

– Você tem vasta experiência em programas de humor como ator e diretor. Como você avalia os atuais programas de humor da tevê?

R

– Eu vejo com muito bons olhos essa volta do humor à tevê, porque amplia o mercado de trabalho. Mas o humor que se faz hoje é apenas deboche. Você até ri, mas esse humor não têm conseqüências. Fico frustrado quando pego um texto de humor e não vejo nenhuma proposta de crítica. Sinto falta do humor que informa, critica e aponta caminhos.

P

– Entre 1994 e 1997, você foi locutor do programa Casseta & Planeta, Urgente!. Você gosta desse tipo de trabalho?

R

– Eu gosto muito de fazer narração. Também narrei a minissérie “O Quinto dos Infernos” e faço vários trabalhos de locução para o “Fantástico”. Só não sei porque as pessoas sempre me chamam para fazer locução. A minha voz é muito comum, não tem nada de mais. Parece que todo mundo combina de me convidar.

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