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Cuscobayo vai do fogo à terra em música que antecede próximo disco

Do êxtase da juventude à sensatez da maturidade.

De um para o outro, ha uma linha quase invisível.

Não se percebe ao cruzá-la, mas, em dado momento, a percepção chega.

E, bem-vindo, à vida adulta de fato.

Quando a arte vem do lugar certo, aquele furor do âmago que expõe o íntimo de quem cria, o passo de transformação é claro.

Com os Cuscobayo, grupo formado por Rafael Froner (vocal e violão), Alejandro Montes de Oca (trompete), Marcos Sandoval (vocal e cajon), Lourenço Golin (baixo) e Rafael Castilhos (percussão), o passo foi dado.

O single e o clipe de Andei Muito, tudo com estreia no blog Outra Coisa, são o exemplo da plenitude pós-Crise dos Trinta (sim, com letras maiúsculas porque a coisa pode ser realmente feia nessa fase).

Da banda que lançou o disco de estreia em 2016 restou os ecos andinos que ainda percorrem, como um vento revolto, as harmonias do Cuscobayo.

“Agora nossas músicas se tornaram muito mais adultas e focadas em problemas, deixamos de lado esse sonho todo”, explicou Rafael Frosner ao blog.

“O disco e o EP que antecederam esse trabalho tem uma carga bem utópica, um lance sonhador mesmo, isso porque ele foi composto em 2012, apesar de ter sido lançado em 2016, e refletia bem o que estávamos vivendo como pessoas na época”, segue o moço.

Ele promete um disco, ainda sem nome, para o próximo ano, com a mesma “ideia realista” ouvida em Andei Muito, mas a leveza deve sair de cena.

“Relação dessa musica com o disco que está sendo feito é um pedaço doce de um disco que vai ser bastante forte, com um peso nas palavras e melodias que até então a gente não tinha experimentado. Nós vamos ter um discurso mais afiado e incisivo nessa nova fase, passamos esses últimos anos sendo bastante afetados pelo que tá acontecendo com o País, então é impossível a gente não refletir isso como artista.”

Na faixa, a bpm (batidas por minuto) média do grupo cai consideravelmente, o excesso de euforia sonora se vai. Com isso, abre-se espaço para a poesia e os versos sobre a contemplação.

Nada disso é acaso. Com o quinteto na entrada dos 30 anos, eles são capazes de olhar ao redor sem a angústia ansiosa da molequice.

Andei Muito significa, entre tantas coisas, ressignificar – e desculpe pela repetição, é para um bom motivo.

Canção e clipe trazem o mesmo propósito: uma ode ao riso, fácil, gostoso, que vem quando se entende que a vida pode ser leve, mesmo frente à dureza das coisas e a brutalidade das pessoas.

“Amanhã quando eu chegar /

Quero que me dê um beijo /

De fazer o tempo parar

Prolongar esse momento

Amanhã vamos fazer

Chover o dia inteiro”, diz uma das estrofes de Andei Muito.

Leve. Fácil.

Como deveria ser sempre.

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