A única produção brasileira a disputar prêmios no Festival de Cannes 2014 será o curta Sem Coração, de Nara Normande e Tião, que integra a Quinzena dos Realizadores. A participação revela a boa fase da produção de curtas nacionais, que tem se revelado cada vez mais consistente. Rodado no litoral de Alagoas em março de 2013, nas praias de São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras, conta a história de um garoto da cidade que vai passar férias no litoral. Lá ele se apaixona por uma garota, filha de pescadores, que usa marca-passo e por isso é chamada de sem coração.

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“Esta história é sobre o rito de passagem da infância para a adolescência. E tem muito comigo, que moro há 14 anos no Recife e cresci na praia, em Alagoas”, conta Nara. “Muitas das histórias e brincadeiras do curta têm a ver com as nossas. Até a menina sem coração existia. Ela realmente morava na região, era filha de pescador e usava um marca-passo”, relembra a diretora. “Um dia comentei com o Tião (que já havia ido à Quinzena com o curta O Muro) sobre ela, contei que não cheguei a conhecê-la, mas que sua história havia me marcado. E vimos que dava um filme”, continua Nara, que até agora só havia dirigido animação (o premiado curta Céu Estrelado).

Ao lado de Tião, Nara será a única diretora em competição pelo Brasil na Croisette este ano. “Em geral, os curtas brasileiros ficam meio apagados em festivais grandes porque as atenções acabam naturalmente voltando-se para os longas. Cannes é um festival que valoriza tanto um quanto o outro, não importa o tamanho. Os curtas são tratados com muito respeito. E agora os brasileiros vão poder dar mais atenção ao formato também”, analisa Nara, que embarca nesta quarta para a França.

Sem Coração, que tem 25 minutos, faz sua estreia no dia 22. Para Nara, estar na Quinzena é uma experiência que vai além da competição. “Não mandamos o curta para a competição oficial por conta da duração, pois teria de ter 15 minutos. De toda forma, a Quinzena é muito instigaste. Quando fui a Cannes como espectadora, os filmes mais interessantes que vi estavam nesta mostra paralela.”

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Quem também participa do festival este ano em uma programação paralela é o curta Os Bons Parceiros, que integra o Short Film Corner, mercado de exibições, encontros e projeções. Adaptação da obra de Plínio Marcos, o filme foi produzido e dirigido por Elder Fraga e conta com os atores Luciano Quirino (Gonzaga de Pai para Filho) e Thogum Teixeira (Tropa de Elite). Na trama, um grupo de amigos reúne-se em uma noite para fazer assaltos e conseguir levantar dinheiro. Um dos assaltos dá errado e eles têm que decidir pela vida ou pela morte de um dos parceiros. “Vamos realizar sessões, fazer reuniões com possíveis compradores e parceiros e também apresentar outros projetos de longas”, declara Fraga. “Ainda que não seja uma das mostras competitivas do festival, o Short Film Corner exige uma inscrição formal dos filmes, que passam por uma seleção rigorosa”, completa o diretor, que também tem vasta experiência no teatro e atualmente está em cartaz com Genet – o Poeta Ladrão, em São Paulo.

Outro representante brasileiro na Croisette é o diretor Walter Salles, que está à frente da Fábrica dos Cinemas do Mundo, que apoia cineastas promissores a realizar seus primeiros projetos.

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Quem representa o País na Fábrica desta edição é a dupla paulista Marco Dutra e Caetano Gotardo, diretores de Quando Eu Era Vivo e O que Se Move, respectivamente. Os dois já são figuras assíduas na Croisette e Dutra competiu na mostra Un Certain Regard em 2011 com Trabalhar Cansa (com codireção de Juliana Rojas).

O projeto Todos os Mortos, de Gotardo e Dutra integra a Fábrica e também participa na Residénce da Cinéfondation, que auxilia jovens cineastas a desenvolverem seus projetos do roteiro até questões de produção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.