O escritor e colunista da Folha de
S.Paulo: otimismo e vantagens da Internet.

Curitiba recebe hoje a visita ilustre de dois imortais: Carlos Heitor Cony e Ana Maria Machado são os convidados do Colégio Decisivo para a palestra Dos Contos de Fada aos Clássicos: O Incentivo da Leitura em Casa e na Escola, que acontece às 17h na sede do colégio no Cristo Rei. O evento é dirigido a toda a comunidade escolar, escritores e interessados na arte de escrever e no despertar para a leitura.

Para Ana Maria Machado, que será a primeira autora infanto-juvenil a tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em cerimônia marcada para o próximo dia 29, o despertar do hábito da leitura nas crianças depende de duas coisas “muito simples”: “Acesso e exemplo”, resume. “Se a criança freqüenta uma escola com um cantinho confortável dedicado à leitura, se vê alunos e professores lendo, ela vai ter vontade de ler. Da mesma forma em casa: se os pais lêem, ela vai ter essa curiosidade.”

Ela defende a disseminação dos clássicos entre crianças e adolescentes e refuta a tese de que seriam “herméticos” demais para esta faixa etária: “No Brasil se usa toda e qualquer desculpa para afastar as pessoas dos livros. ?Ah, me fizeram ler Machado de Assis quando era criança e eu detestei…?. Isso acontece quando o primeiro contato é com um autor como Machado. Se a criança vem lendo uma porção de coisas antes – Robinson Crusoé, Alice no País das Maravilhas, Monteiro Lobato… -, ela naturalmente vai se preparanda para encarar um Machado de Assis”.

Vestibular

A escritora também se opõe ao vestibular: “Não deveria haver vestibular, porque ele cria as leituras obrigatórias. Coitados dos colégios que não preparam seus alunos para os livros que serão ?cobrados? no vestibular. Precisamos pressionar para que se criem exames como o Enem, avaliações ao longo da vida escolar, que acompanhem o desempenho do aluno”.

Apesar de tudo, Ana Maria se mostra otimista em relação ao futuro: “Fomos um País de analfabetos até outro dia. Pela primeira vez o Brasil tem quase 100% de suas crianças na escola, o que é mérito do governo anterior. Agora é a hora de incentivar loucamente as crianças, e também pais, professores, jornalistas a ler. Porque todo mundo tem quase uma programação para gostar de ler. O natural é que a criança goste de brincar e de ler. Ela só não vai se interessar pela leitura se não tiver a chance de descobrir que gosta. É como namorar…”, ilustra.

Otimista

Escritor, colunista da Folha de S.Paulo e integrante da Academia Brasileira de Letras Carlos Heitor Cony também se diz otimista com os jovens leitores: “Vivemos a evolução de um processo que começou lá atrás com as obras-primas de Monteiro Lobato. Ali descobriu-se um mercado potencial, mas ainda não havia uma indústria editorial para este segmento”, avalia. “De 20 anos para cá, o mercado começou a se tornar mais visível, e as editoras descobriram este filão, com autores como Ruth Rocha, Ziraldo e a própria Ana Maria Machado. E hoje este é o setor mais florescente do ramo editorial.”

Ele também identifica crianças com curiosidade pela leitura, apesar da concorrência da internet e da televisão. A rede mundial de computadores, aliás, é vista por Cony como uma aliada no desenvolvimento do hábito da leitura: “Os diários (blogs), as trocas de e-mails e mensagens têm ajudado a aumentar o vocabulário dos jovens, que tinha encurtado muito nas últimas duas ou três gerações”.

E explica: “Eles se comunicam usando algo mais que ?legal, corta essa, tá ligado?, instalam corretores ortográficos e acabam articulando uma linguagem escrita própria. As modificações no vernáculo não são tão relevantes, o que importa é o conteúdo. E o leitor encontra na internet duas ferramentas em uma: uma forma de aumentar seus conhecimentos e uma fonte de prazer”. Para o escritor, os grandes rivais da leitura são o som e a imagem – TV, rádio, games. “O importante é fazer com que as jovens gerações voltem a usar a letra no lugar do som e da imagem. E isso a rede está fazendo?. Para terminar, Cony lembra um detalhe crucial: “O ato de ler precisa ser uma descoberta prazerosa, quase individual. Ninguém pode ser obrigado a ler. Felizmente, cada vez mais crianças tendem a buscar o prazer nos livros”.

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O Decisivo Cristo Rei fica na Rua do Herval, 801. Ana Maria Machado será homenageada emprestando o nome ao espaço infantil do colégio.

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