Grandes filmes, aqueles que fizeram avançar o cinema, são lembrados em ocasiões especiais ou datas redondas. E há outros que não são tão grandes, mas são cultuados e cujos aniversários são comemorados ano a ano. Dirty Dancing/Ritmo Quente é uma dessas obras. O filme estreou nos EUA em 21 de agosto de 1987 e, portanto, está fazendo 27 anos nesta quinta-feira, 21. Era, coincidentemente, a idade de Jennifer Grey quando iniciou a filmagem.
Ela faz Baby, a herdeira que vai para um resort de luxo. O filme passa-se nos anos 1960, mais exatamente em 1963, mas a trilha tem a ver com os ritmos da época em que foi feito. I’ve Had (The Time of My Life), da dupla Bill Medley/Jennifer Warnes, ganhou o Globo de Ouro e o Oscar de canção. Virou hit, a música dos baladeiros em 1988, depois que Ritmo Quente tomou de assalto as telas de todo o mundo. A canção talvez ajude a entender por que o filme de Emile Ardolino provocou tamanha sensação.
Eu Tive (O Tempo da Minha Vida). É como se Baby – seu nome é Frances – e John, o instrutor de dança, vivessem naquele verão o apogeu de suas vidas. A história é basicamente simples. Garotas rica se envolve com empregado do hotel em que passa férias. O pai dela é contra, e tenta afastá-los. Não importa. Os amantes vão levar para sempre a lembrança daquele verão inesquecível. É um pouco a história que o japonês (Eiji Okada) arranca da francesa (Emmanuelle Riva) em um dos mais belos filmes já feitos, Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais, com texto de Marguerite Duras. ‘On faisait l’amour partout’, A gente fazia o amor em toda parte, lembra Emmanuelle, que revive o romance proibido com o soldado nazista. Baby e John expressam seu amor dançando, e dançam por toda parte. Na pista, na piscina.
O tema, pois há um tema nesse baile, é a inocência perdida. John vai ser acusado de roubo, só por ser ‘pobre’. Baby é confrontada com a realidade da vida – John paga para que uma colega faça aborto, e o pai usa o fato para sugerir que ele é o pai. Assim como canta o tempo de nossas vidas, a trilha tem outras canções de títulos sugestivos. She’s Like the Wind (Ela é como o vento, ou seja, livre), You Don’t Owe Me (Você não Me Possui, não é meu dono, que expressa a insatisfação da garota face à autoridade do pai), Hungry Eyes (Olhos famintos – de desejo), Love Is Strange (O amor é estranho). Essa trilha ficou 18 semanas no topo da lista da revista Billboard, e I’ve Had, o disco solo, foi o número um por muito mais tempo ainda.
Jennifer Grey rapidamente se impôs para o papel de Baby, mas foi difícil encontrar o ator para John Castle. Val Kilmer foi convidado mas declinou, achando que não seria tão interessante. Billy Zane queria fazer, mas não era bom dançarino. Finalmente, Patrick Swayze foi escolhido. No mês que vem, dia 14, completam-se 5 anos da morte de Swayze, de câncer. Ele estava devastado. Não lembrava nem de longe o jovem atlético que tomava Jennifer nos braços. O papel marcou tanto que, nos necrológios, era sempre Dirty Dancing que vinha primeiro, antes de outro megassucesso do ator, Ghost – Do Outro Lado da Vida, com Demi Moore.
Pouca gente deve se lembrar, mas Swayze e Jennifer estiveram juntos no elenco de um polêmico filme anterior a Ritmo Quente. Em 1984, o diretor e roteirista John Milius fez um filme pequeno chamado Red Dawn/Amanhecer Violento, em que um grupo de jovens resiste à invasão dos EUA por cubanos e russos. Milius, o chamado samurai de Hollywood, acreditava em códigos de honra que já eram ultrapassados há 31 anos. A crítica de esquerda caiu matando em seu filme, mas ele não merecia. Era tão anacrônico, mas digno (e intenso), quanto o espírito de 68, o ano que não termina nunca. O diretor e coreógrafo Emile Ardolino, nova-iorquino de ascendência italiana, morreu em 1993, aos 54 anos, de complicações decorrentes da aids. Ele ainda teve mais um imenso sucesso, além de Dirty Dancing – Mudança de Hábito, a comédia com Whoopi Goldberg.
Ardolino, Swayze, Jennifer. Difícil não pensar que todos eles tiveram ‘the time of their lives’ ao som do ritmo quente que completa 27 anos. Daqui a pouco serão 30. E o culto vai continuar.