São Paulo (AE) – Crônica de uma fuga, de Claudio Tamburrini, testemunha a capacidade argentina de evocar os anos de ditadura com grande competência e dignidade. No caso, trata-se da adaptação de um livro do próprio Tamburrini, no qual ele narra a terrível experiência de ter sido preso por engano como subversivo e ter passado muito tempo numa sinistra casa de torturas nos arredores de Buenos Aires.
Tamburrini era goleiro do Almagro quando alguém, sob tortura, cantou o nome dele e ele viu-se detido sem direito a defesa. Sofreu o diabo, não tinha o que dizer, o que, nesse tipo de caso, é o pior dos problemas. Adaptou-se à rotina do cárcere e ainda teve energia para bolar uma fuga.
Esse tipo de filme sempre representa uma armadilha para o diretor. É claro que as simpatias estarão todas para com o protagonista, que, neste caso, não se trata de uma figura de ficção, mas um ser humano com existência real. Do outro lado, estarão os carcereiros, que fizeram a guerra suja durante a ditadura argentina. Esta, aliás, produziu muito mais mortos do que a nossa.
Assim, cria-se uma situação em que, de fato, há heróis e vilões, e isso não se trata de maniqueísmo de filme americano. Havia gente que resistia e gente que torturava e matava. Como colocar nuances entre tipos tão demarcados?
Eis aí um problema, e o que se pode dizer é que Tamburrini não se sai nada mal desse desafio. Sobra a Crônica de uma fuga uma credibilidade que poucos filmes desse tipo costumam exibir.
Serviço:
Crônica de uma fuga (Crónica de una fuga, Argentina/2006, 103 min) – Drama. Dir. Israel Adrián Caetano. 14 anos. Cotação: Bom