“Quem procura, não acha!” Essa era uma das frases do mestre Cartier-Bresson. Parece que ela funcionou muito bem para este livro de Cristiano Mascaro sobre a cidade de Tiradentes. A pauta era clara: fotografar o interior das casas da cidade mineira. Mas quando lá chegou, percebeu que poderia muito bem furar a pauta e ir além do que lhe foi pedido. E foi assim que o livro cresceu e as imagens de Cristiano procuraram contar o que as sombras da luz de maio escondiam.
“Quem se deparar com o livro provavelmente vai se espantar. Não encontrará o famoso preto e branco do Cristiano, mas um livro colorido. Uma primeira experiência de fazer um trabalho pessoal colorido. Lógico que não é a primeira vez que faço um trabalho em cores, mas é primeira vez que tenho esta experiência de um trabalho pessoal”, comenta ele. Mas se engana quem pensa que vai encontrar cores saturadas, imagens que gritam a cor que distrai. O olhar do Cristiano, mesmo em cores, continua preto e branco. Suas imagens são monocromáticas, uma cor se destaca, outras complementam, embora não se contrastam – apoiam-se.
E assim “Tiradentes – Um Olhar para Dentro” (Editora Bei) vai narrando por meio de detalhes de portas, interiores de lojas, panelas ao fogo, a história dessa cidade nascida no século 18, como vila de São José Del-Rei. “Esta me pareceu a melhor maneira de interpretar a cidade”, conta ele ao jornalista mineiro Humberto Werneck – cronista e colaborador do jornal O Estado de S. Paulo -, que num texto delicioso nos narra a história de Tiradentes, entremeada com o caminhar do fotógrafo.
Cristiano anda pelas cidades procurando ser invisível, um observador discreto e silencioso prestando atenção ao que nos passa despercebido numa equivocada noção de não importância das coisas. Um ensaio quase que intimista guiado exclusivamente pela luz que o conduz. Diz o fotografo ao cronista: “…a luz que a cada hora do dia revela ou esconde um canto da cidade, até desaparecer atrás da serra de São José.”
Nessas caminhadas, feitas como quem está a perder o dia, é que ele encontra o caos organizado da Ourivesaria Santíssima Trindade, onde cada espaço está tomado por objetos feitos de ferro, ou um monte de velhas malas de caixeiros-viajantes, mas tudo isso sem deixar de nos mostrar a cidade, seus casarões e seus calçamentos. Escreve ainda Werneck: “Mesmo quando colhidos a céu aberto, os detalhes que Mascaro registra sugerem intimidade, tanto quanto o que ele surpreende no interior das casas em Tiradentes.” Narrativas que se completam a desses dois mestres. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.