Crescem as parcerias entre produtoras independentes e emissoras abertas

Uma prática comum nosEstados Unidos, pouco a pouco vem vencendo a desconfiança no Brasil: a parceria entre emissoras abertas com produtoras independentes. E deve ganhar força em 2003. Afinal, “comprar feito” já não é tão incomum por aqui quanto em anos passados. A Record, por exemplo, vem obtendo boa audiência com o “Turma do Gueto”, da Casablanca Produções. A Band negocia uma parceria com a TV7, da Traffic, e a MTV pela primeira vez exibe uma atração terceirizada, o “Supersurf”, da produtora KN Vídeo. A Globo também aposta nas independentes, pois assinou contrato de três anos com as produtoras O2, Vídeo Filmes, Criatura e Casa de Cinema. “A O2 fez a melhor parceria que já se viu no Brasil. Eles ensaiaram na tevê com o ?Palace II?, foram para o cinema com o ?Cidade de Deus? e voltaram à tevê com o ?Cidade dos Homens? com o filme ainda em cartaz”, ressalta Guel, diretor de núcleo que supervisiona os projetos das produtoras na Globo.

Fundada em 1991 e com mais de 3 mil filmes produzidos, a paulistana O2 é a que melhor define uma produtora independente. Possui três estúdios de 3.400 metros quadrados e mais três apenas para teste de elenco, além de 7 mil atores cadastrados, 15 mil itens de guarda-roupa, uma ampla marcenaria, sistema de iluminação e câmaras 35 mm e 16 mm. Um dos sócios é Fernando Meirelles, diretor de “Cidade de Deus”, filme que ultrapassou 2 milhões espectadores. O estopim para a parceria com a Globo foi “Palace II”, episódio do “Brava Gente” exibido no final de 2000, que atingiu mais de 30 pontos. Depois, a O2 emplacou “Cidade dos Homens” e atingiu 31 pontos, significativos para as 23 h. Resultado, “Cidade dos Homens” terá novos episódios em 2003. “Há uma idéia de que o tema mais realista ou que o elenco negro não interessam à audiência. O ?Cidade dos Homens? está mudando isso”, avalia Meirelles.

Novos olhares

Atualmente a Globo exibe “Pastores da Noite”, parceria com a Vídeo Filmes, de Walter Salles. Ao contrário de “Cidade dos Homens”, da O2, “Pastores da Noite” foi executado pela Globo e o elo de ligação foi o diretor Sérgio Machado, que também assina o roteiro. A microssérie baseada na obra de Jorge Amado pode virar filme e DVD e ainda ter novos episódios em 2003. “O importante é que as parcerias jogam olhares novos sobre o mundo. Para o ator, isto é fundamental”, afirma Matheus Nachtergaele, um dos protagonistas do “Pastores da Noite”. Já os projetos das produtoras Casa de Cinema e Criatura ainda estão em estudo. “Desde 92, trabalhamos com a Globo. A diferença agora é que a produtora vai ter créditos”, pondera Nora Goulart, uma das sócias da Casa de Cinema, que produziu em 98 a microssérie “Luna Caliente”, que custou à Globo R$ 3 milhões. Segundo João Falcão, dono da Criatura, o contrato não obriga a Globo a exibir os produtos. Além disso, ao final do contrato, quem fica com o programa é a Globo e a produtora ganha royalties sobre a obra. Quem negocia no exterior também é a Globo Internacional. Ao contrário da O2, a Criatura não tem estrutura própria. “Para mim, a vantagem da parceria é ter passe livre na Globo”, afirma João Falcão, que dirigiu episódios do “Brava Gente” e roteirizou “Auto da Compadecida”.

A Record também colheu bons frutos com produtoras independentes. Em outubro estreou “Turma do Gueto” e dobrou a audiência no horário das 22 h às segundas. O seriado, que enfoca um bairro carente de São Paulo, era uma antiga idéia de Netinho de Paula, que só renovou com a Record depois que ela topou pôr a produção no ar. Netinho se associou à Casablanca e investiu do próprio bolso para a produção dos 16 capítulos, orçados em R$ 150 mil cada.

Para todos os gostos

# Regina Casé é sócia da produtora Pindorama, que também faz produções para a Globo, como os quadros dela sobre cidadania exibidos pelo “Fantástico”.

A produtora também é responsável pelo “Pé de Quê?”, exibido no Futura, da Globosat.

# A minissérie “Sorriso do Lagarto”, de 1991, foi a primeira produção em parceria com uma produtora independente que a Globo exibiu.

# “Retrato Falado” é produzido para a Globo pela Nia, produtora de Luís Villaça e Denise Fraga, que também comanda o quadro.

A produtora já realizou o “Copas de Mel” e a partir de dezembro exibe no “Fantástico” o quadro “O Ano de Glória”.

# No contrato com a Globo, as produtoras independentes mantêm a exclusividade para a emissora mesmo em produtos como DVD e direcionados para a Internet.

Conquistando respeito

Apontar para um segmento televisivo é uma alternativa para as produtoras independentes ganharem respeito entre as emissoras. É o caso, por exemplo, da carioca KN Vídeo, fundada em 1990 com a idéia de investir no filão dos esportes radicais. Em 1997, produziu o “Nas Trilhas”, sobre “off-road”, para o Sportv da Globosat. Em seguida, criou o “Rolé”. Rla acabou de renovar o contrato do quadro “Caminhos da Aventura” até final de 2003 para o “Esporte Espetacular”, da Globo, e é a primeira produtora a ter um programa exibido pela MTV: o “Supersurf”. Já a TV Cultura está fazendo o caminho inverso, propondo parcerias para produzir programas e se capitalizar. Por isso, em 1998 a emissora criou o Núcleo de Documentários. Desde então, vem fazendo parcerias com a GNT, por exemplo, com quem produziu um documentário sobre Darcy Ribeiro. Em 2003, ainda vai exibir “Moro no Brasil”, documentário sobre as raízes da MPB que gerou parceria com produtoras da França, Finlândia e Alemanha.

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