Num ano em que o indie rock foi dominado pelas mulheres (2018), Courtney Barnett, a australiana de 31 anos que desde 2015 é destaque nas publicações do gênero, lançou seu segundo disco, Tell Me How You Really Feel e apareceu no alto de cartazes de festivais ao redor do mundo. Nesta quinta, 21, a cantora e compositora volta ao Brasil para seu segundo show por aqui, dessa vez no Fabrique. Na sexta, 22, ela também toca no Bar Opinião, em Porto Alegre.

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De acordo com Courtney, que atendeu o telefonema da reportagem numa manhã (bem cedo) em Melbourne, é interessante observar como o segundo ciclo, depois da acolhida crítica do primeiro álbum, cria uma energia diferente. Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit, além de ter ficado no top 10 de 2015 de publicações como Pitchfork, Stereogum e também do The Guardian, rendeu à cantora quatro ARIA Music Awards e indicações para o Grammy e para o Brit Awards. Tell Me How You Really Feel absorve a energia independente da primeira empreitada, mas tem uma aura menos atrevida.

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“Nunca vejo como apenas um trabalho”, diz ela agora, praticamente uma veterana do mundo da música – além das próprias criações, ela também mantém uma gravadora, a Milk Records. “É inspirador demais trabalhar com outras bandas.”

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Entre os fãs, Barack Obama, que elegeu Need Little Time, do disco mais recente, uma de suas canções preferidas de 2018, e Kim Deal, ex-Pixies e fundadora do Breeders – bandas para as quais Courtney deve parte de seu som e suas inspirações.

“Need Little Time significa muitas coisas, então qualquer pessoa que se conecta com ela é um mistério para mim”, diz a cantora sobre a chancela do ex-presidente americano. “A premissa básica é simplesmente se afastar, então pode ser por aí.”

Ela e Kim entrevistaram uma à outra no podcast Talkhouse ainda em 2015, e desde então se mantiveram amigas. Kim toca guitarra e faz backing vocals na faixa Crippling Self-Doubt and a General Lack of Confidence, talvez a mais bem acabada do novo disco. “Cresci nos anos 90, com esse tipo de música, e não se pode negar que ele entra na minha música. Mas outras coisas também entram, isso me satisfaz.”

No novo disco, Barnett aparece mais diretamente ao ouvinte, numa linguagem menos florida (“Ninguém se importa se você não vai para a festa”, dizia; “eu preciso de um tempinho”, admite agora, claramente mais madura). “Nada que faço parece ser uma decisão consciente”, admite, porém. “Eu escrevo todo dia e deixo acontecer.”

Ela diz não se sentir pressionada a tratar de certos temas contemporâneos. “As pessoas sentem que poderiam fazer mais de maneira geral, e compositores também. Mas acredito que cada um faz seu trabalho de um jeito diferente. O meu é tentar ser honesta, vulnerável e encontrar intenções claras.”

Quando questionada sobre a etiqueta de “salvação” do rock n’ roll, que atribuem a ela e outras bandas, ela solta um lânguido “não acho que seja o caso”. “Precisamos inventar assuntos como esse para nos distrair por cinco minutos, somos humanos. Há muita coisa acontecendo, ninguém consegue acompanhar tudo”, suspira.

POPLOAD GIG COM COURTNEY BARNETT

Fabrique. Rua Barra Funda, 1.071, tel. 4306-4220.

5ª (21/2), às 21h. R$ 240

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.