Durante o Festival de Cannes de 2018, na Fnac da Rue d’Antibes, Costa-Gavras lançou seu livro de memórias. Va là où il Est Impossible d’Aller – Mémoires, Vai aonde é Impossível Ir, das edições Seuil. O diretor conta tudo. Por quê? Aos 85 anos – nasceu em 12 de fevereiro de 1933 -, ele diz que sentiu a necessidade de passar sua vida a limpo. “Já há algum tempo vinha coletando informações. Chegou um dia em que o livro se tornou necessário. Não só a minha história. A da minha geração. Pertenço a uma geração que sonhou mudar o mundo. Vivemos intensamente o sonho e a sua contrapartida – os combates mais duros contra a repressão.”

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Em sua casa, ele contou ao repórter os bastidores de seu clássico Z, que completa 50 anos e será a atração especial, em cópia restaurada, do Festival Varilux de Cinema Francês.

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Depois de Z, em 1969, sobre uma ditadura de direita, Costa emendou A Confissão, sobre os processos do stalinismo. Foi para equilibrar, para manter, digamos, a isenção? “Nunca fomos, nem eu nem meus amigos, stalinistas. Mesmo quando cerramos fileiras alinhados com a URSS, durante a Guerra Fria, o apoio era tácito. O gulag (campos de trabalhos forçados para criminosos, presos políticos e qualquer cidadão que se opusesse ao regime na antiga União Soviética) nos horrorizava, mas a URSS interessava por seu enfrentamento, como um limite, aos EUA. Veja o estado do mundo após a fratura do mundo comunista. A América dá as cartas”, comenta ainda.

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E ele assinala. “A questão hoje em dia nem é ideológica. O poder é econômico. Tenho certeza de que no Brasil, como na França, nos Estados Unidos, todo poder é dos bancos.”

A fama de cineasta político ainda o persegue, mas foram sempre as histórias de certos personagens que ele quis contar. Admirava Salvador Allende, a quem conheceu por intermédio de um diretor amigo, o chileno Helvio Soto. A destruição do projeto da Unidade Popular do Chile foi, para ele, uma grande tragédia.

Como presidente da Cinemateca Francesa, Costa-Gavras empenha-se no restauro de grandes filmes. Não desistiu de filmar. Tem pronto um roteiro que espera filmar até o ano que vem, Adults in the Room. “É sobre a Europa contemporânea. Intimista e, claro, político.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.