Correção: Afilhada de Bertolucci grava em SP

A matéria enviada ontem contém incorreções no nome do filme, do diretor e do curta-metragem. Segue o texto corrigido:

Há cerca de três anos, em visita ao set de “Tropa de Elite 2”, de Jose Padilha, a reportagem assistiu justamente à filmagem da cena em que Irandhir Santos dá uma aula e antecipa para seus alunos o colapso do sistema penitenciário no Brasil. A reportagem visita agora outro set em São Paulo. É o do longa de estreia de Gregório Graziosi, “Obra”. A cena filmada é a de outra aula, e de novo com Irandhir Santos. Sempre apocalíptico, ele anuncia agora a morte da arquitetura, com base em conceitos de Charles Jencks estabelecidos em 1972. Irandhir fala sobre a imagem da implosão de um prédio. Ele próprio é um homem próximo da implosão.

Como arquiteto, acaba de descobrir uma ossada no prédio que está erguendo. E, como se não bastasse, em boa parte do filme ele vai sofrer de dolorosos problemas de coluna. O filme em preto e branco está sendo rodado no centro de São Paulo. Graziosi é um diretor de curtas premiados como “Monumento”. Filho e neto de arquiteto, o tema tem estado presente em sua vida. Ele se interessa pela arquitetura de São Paulo, mas o tema vale pela sua ligação com o humano.

No ano passado, Gregório Graziosi mostrou seus curtas em Locarno. No intervalo de uma das sessões, foi apresentado a Mark Peploe, o roteirista de Michelangelo Antonioni em “O Passageiro – Profissão: Repórter”. E de Bernardo Bertolucci em “O Ultimo Imperador”. Com ele estava uma mulher linda – “Meu Deus, fazei com que não seja a mulher dele”, pensou Graziosi. Era sua filha, Lola Peploe. Graziosi e ela conversaram. Ele já tinha o esboço de “Obra” na cabeça. Chegou a perguntar se ela toparia fazer o papel – “Eu, falar português, jamais!”, disse Lola. De volta ao Brasil, ele retomou o roteiro e transformou a mulher de Irandhir numa estrangeira. Ligou para Lola – e se for falando inglês? Ela topou e agora filma no Brasil.

Filha de Mark Peploe, sobrinha de Claire Peploe, mulher de Bernardo Bertolucci, Lola é também afilhada do grande diretor italiano. Bertolucci deu-lhe um pequeno papel em “Beleza Roubada”, fez dela sua assistente em “Os Sonhadores”. “Eu tomava conta dos atores no set, especialmente de Louis Garrel.” O ator foi tema de uma retrospectiva há duas semanas, no Centro Cultural Banco do Brasil. “Eu sei, fui ver ‘Em Paris’. Não gostei do filme (de Christophe Honoré), mas Louis era belo como sempre. Gosto dele. É talentoso, leva absolutamente a sério seu trabalho e não tem nenhum estrelismo no set.”

Através do pai e do padrinho, Lola teve acesso ao mundo fascinante do grande cinema. “Conheci Antonioni, mas ele já estava na sua fase final, o que foi uma pena. Dava para sentir que havia um turbilhão dentro dele, que ele ainda queria criar, mas o corpo, paralisado pela doença, não ajudava.” Agora é Bertolucci quem também anda na cadeira de rodas. “O que me entristece é que ele é um dos homens mais doces e carinhosos que conheci.” O que aprendeu com Bertolucci? “Tudo, é um dos grandes do cinema. Só de vê-lo trabalhar já foi um privilegio.” São Paulo assustou-a no inicio – “Não gosto de agitação” -, mas aos poucos ela descobriu o particular encanto da cidade. No filme, a personagem está grávida, o que faz com que Irandhir seja confrontado com experiências de vida e morte, enquanto perde o eixo.

Entusiasmado com seu elenco – e a perspectiva do primeiro longa -, Gregório Graziosi conta que, até por seu interesse pela arquitetura, o cinema de Antonioni foi sempre uma referência para ele. Lola lhe trouxe tudo – Antonioni, Mark Peploe. “É como um sonho”, define. Mas as referências em “Obra” são muitas e o assunto cai na grande exposição de Morandi em Porto Alegre. “A ideia dos volumes é fascinante, a cor que vira intimismo, tudo isso me fascina.” Apesar da fascinação pela cor, Graziosi escolheu filmar “Obra” em preto e branco, formato horizontal. A produção é da Superfilmes de Zita Carvalhosa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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