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Corpos elétricos e a fronteira que os define

Às vésperas de mais um Festival de Gramado e em pleno Festival de Cinema Latino-americano de São Paulo, estreou na quinta, 27, o vencedor do prêmio especial do júri na mostra gramadense do ano passado. Esteros, de Papu Curotto, é uma coprodução Brasil/Argentina. Na serra gaúcha, o diretor contou a gênese de seu filme. Em 2012, por aí, Curotto trabalhava com Andi Nachon numa empresa de ‘documentales’ (documentários). Viajavam muito de carro pela província de Buenos Aires e, como Curotto estava sem rádio – havia sido roubado -, conversavam muito. Das trocas de confidências, e das lembranças de infância e adolescência, nasceu a ideia desse filme.

De cara, dois amigos, Matías e Jerónimo. Trocam olhares intensos, que não deixam margem a dúvidas de uma atração intensa a uni-los. Mas Matías está noivo e vai se casar – com uma mulher. As circunstâncias os levam ao sítio onde tudo começou – Santiago del Estero. À velha casa. Uma conjunção de fatores os leva a se despirem. E…? Esteros é um filme muito delicado e bonito. Levanta questões que ainda não estão resolvidas. Os críticos – as críticas – perguntam-se muito sobre o tal olhar feminino. E a mirada gay? Há um livro chamado O Cinema Que Ousa Dizer Seu Nome, de Lufe Steffen, Editora Giostri.

Diretores que já saíram do armário encaram o tema. Alguns discutem a questão-chave. Existem filmes transgressores no trato da homossexualidade como tema, mas não necessariamente como forma. Nem todo o mundo é Marcelo Caetano, que vai estrear dentro de uma ou duas semanas seu Corpo Elétrico, sobre garoto (trabalhador) que trafega no mundo underground. Em Gramado, Curotto contou coisas interessantes. Sobre o processo de escolha do elenco – Ignacio Rogers, que faz Matías, foi o primeiro a ser escolhido. Para Jerónimo, ele não queria um gay de carteirinha. Estebán Marturini foi um achado.

E os meninos. Já que a atração começa na infância, houve um trabalho acurado com pais, psicólogos, os próprios garotos. As miradas/os olhares definem o filme, sua estética. A fotografia – câmera na mão, livre, nas cenas de infância, no campo; câmera no tripé, na idade adulta. E a casa. Ela vira personagem, como a paisagem, essa fronteira. A cumbia Amores Como el Nuestro, dos anos 1990, assinala o tempo. É injusto relegar tão belo filme ao gueto. Pegando carona no livro, é representativo de um cinema que ousa dizer seu nome.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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